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Enem prova muita coisa

 

Com a participação de 1 milhão de concluintes do ensino médio, no país inteiro, a verdade é que o Enem permite uma série de reflexões úteis ao nosso sistema educacional. Em primeiro lugar, infere-se que a qualidade deixa muito a desejar. A média nacional é 5,2, o que dá para passar raspando, mas com uma particularidade lamentável: se não fossem as escolas particulares (entre elas muitas religiosas) estaríamos amargando um resultado ainda mais triste. As escolas públicas levaram uma surra, no último exame.

Há quem não goste muito desse ranking, mas não se pode fugir da sua realidade. Das dez melhores escolas do país, só uma tem relação com o ensino público: o — Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (MG), que ficou em 8º lugar. Todas as demais são particulares, como o Colégio de São Bento, do Rio de Janeiro, mais uma vez confirmando a sua liderança. Obteve o primeiro lugar, com 761,70 pontos (média acima de 7). Aliás, o Rio brilhou, pois entre as dez primeiras ainda teve o Colégio Cruzeiro (6º) e o Santo Agostinho do Novo Leblon, que ficou em 9º. Das 100 primeiras escolas do ranking, 35 são do Rio de Janeiro.

A destacar-se, nesse resultado, a performance do Estado do Piauí. Sendo dos mais pobres da federação, teve o Instituto Dom Barreto em 2º lugar e o Educandário Maria Goretti em 7º. O curioso é que de São Paulo só o Colégio Vértice ficou em 3º lugar. Minas Gerais emplacou três escolas entre as dez primeiras, o mesmo resultado do Rio de Janeiro.

A discussão é grande. Tem razão o professor César Callegagari, do Conselho Nacional de Educação, quando afirma que "as melhores escolas são bem equipadas, têm professores mais bem pagos e melhores condições de trabalho."Isso naturalmente inclui laboratórios modernos e bibliotecas atualizadas, além do indispensável tempo integral. No São Bento, desde o fecundo período da gestão do reitor D.Lourenço de Almeida Prado, o horário vai das 7h30min às 16h20min, invariavelmente. Como não obter bons resultados com essa política? 

De um ano para o outro, o exame globalmente cresceu 10 pontos, o que é ridículo, num total superior a 500. Desse jeito vamos continuar atrás de muitos países que têm desenvolvimento menor do que o nosso, criando-se uma disparidade que pode, em curto prazo, sacrificar o nosso esforço de crescimento. Ou alguém acha que um país pode se expandir sem recursos humanos adequadamente preparados?

Cadê a prometida melhoria dos salários dos professores? Reparem num dado essencial: há quanto tempo não se ouve falar em inauguração de escolas? Muitas delas estão sucateadas, há um pequeno alento na educação profissional, mas de modo geral vivemos um tempo de penúria franciscana, com promessas vazias que não levam a nada.

Em tempo, deve-se louvar a nova gestão do Inep, responsável pelo Enem. Dessa vez, sob o comando eficiente da professora Malvina Tuttman, tudo correu muito bem, sem irregularidades que depunham contra a seriedade do exame.

Jornal do Commercio (RJ), 7/10/2011