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Enea!

 

Enea. Nome lindo, não? Não conhecia. Nasceu do grego "enneas", nove —o número 9. Dele derivou Eneias, herói troiano da "Eneida", de Virgilio, e, por associação, nomeando também bravura, vitória, liderança. Tudo a ver com o Flamengo de 2025, eneacampeão brasileiro, primeiríssimo em nove enormes exigências: mais vitórias, menos derrotas, mais gols pró, menos contra, melhor do turno, melhor do returno, mandante mortal, visitante idem e com o craque do campeonato —mesmo com jogadores insones pela conquista, quatro dias antes, do tetra da Libertadores. E asterisco é a avozinha.

É um enea a ser gravado com orgulho na taça, antes que tentem de novo reduzi-lo a octo, alegando a decisão legaloide que atribuiu o título de 1987 a um expoente da 2ª divisão. Octo, o Flamengo foi em 2020, por já ter vencido em 1980, 82, 83, 87 (sim!), 92, 2009 e 19. E o enea de 2025 faz jus a mais uma tradição rubro-negra: foi conquistado em campo, como os oito anteriores. Como observou Mauro Cezar Pereira, meu colega do UOL, nenhum deles pelo fax ou no tribunal.

Mauro Cezar vai além. O título de 1987, afrontando as instâncias esportivas, foi dado por um truculento ministro do STF ao vencedor de um campeonato disputado por Sport, Joinville, Náutico, Ceará, CSA, Inter de Limeira, Rio Branco do Espírito Santo, Bangu, Portuguesa, Athletico Paranaense, Atlético Goianiense, Vitória, Guarani, América, Criciúma e Treze da Paraíba. Com todo o respeito a esses clubes, o que o Flamengo venceu tinha Corinthians, São Paulo, Santos, Palmeiras, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Bahia, Coritiba, Goiás, Santa Cruz, Internacional, Grêmio, Fluminense, Vasco e Botafogo.

O Flamengo de 1987 entrava em campo com Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Aldair e Leonardo; Andrade, Ailton e Zico; Renato Gaúcho, Bebeto e Zinho. Dos 11, 10 chegaram à seleção brasileira. Cinco seriam tetracampeões mundiais: Jorginho, Aldair, Leonardo, Bebeto e Zinho. O que tinham a fazer na 2ª divisão?

Perdão, amigos, mas é enea —véspera do deca.

Folha de São Paulo, 06/12/2025