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Emoções em Valença

 

A cidade fluminense de Valença, no Vale do Paraíba, tem excepcional valor histórico. Abrigou grandes fazendas de café, que atingiram o auge da produção entre 1830 e 1870, com reflexos na presença de nobres e escravos, além dos valentes índios coroados dos seus primeiros tempos.


O resultado é que a região conseguiu preservar, além do seu admirável clima, uma série de imensas propriedades, onde hoje se desenvolve intenso trabalho de preservação do patrimônio cultural, o que enseja o despertar de uma política de turismo de primeira ordem. Quem não deseja tomar conhecimento da arquitetura secular, dos móveis característicos, das lendas e mitos de que a região é pródiga?


As entidades oficiais, do tipo Iphan e Inepac, lutam com bravura para que as casas não sejam destruídas. Quando há tentativas, nesse sentido, o ministério público é acionado, para que se interrompa o processo - e o responsável seja punido, na forma da lei. Existe, no entanto, um fato do qual não se pode fugir. Feito o tombamento, como aconteceu recentemente com 134 imóveis do Centro Histórico de Valença, uma bela e corajosa iniciativa do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, fica mais complicada a operação quando se trata de promover o restauro. Conversei com um produtor de leite: "Hoje ganha-se tão pouco que não dá nem para reformar um forro."


Ocorreu-nos, então, promover estudos para que seja criada uma espécie de incentivo à restauração, na linha dos impostos estaduais ou mesmo federais (ação conjunta). Todos ganhariam com isso. As cidades ficariam mais bonitas, o nosso passado preservado, e as propriedades seriam verdadeiros pólos de atração turística, assegurada a qualidade de uma comida de primeira.


Com recursos do próprio Estado, a Secretaria de Cultura restaurou a Matriz de N.S. da Glória. Um prédio bonito, onde esteve o Cardeal D. Eusébio Oscar Scheidt, para a bênção das instalações, e que mais tarde, no mesmo dia, ofereceu à população local um espetáculo de música, com o templo lotado, para que fossem aplaudidos os membros da Orquestra Jovem da Escola de Música Villalobos e do seu respectivo Coral Infantil.


Registrou-se uma emoção generalizada quando, no final da tarde, foi apresentada a música "Noite Feliz". Houve a participação do público que, ao contrário do que afirmam os descrentes, tem muita sensibilidade para essas questões. Na saída, com a alma leve, ainda pude olhar para a esquerda e me recordar da Escola Estadual Benjamin Guimarães.


Em 1980, em outras circunstâncias, igualmente nobres, inaugurei as obras de recuperação e ampliação daquele estabelecimento de ensino. Passa pela nossa imaginação uma quantidade imensa de alunos e professores que, por mais de 20 anos, tiveram o privilégio de ali estudar, formando o seu caráter e adquirindo o verdadeiro espírito de brasilidade que não pode faltar, na relação ensino-aprendizagem.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 24/12/2004

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 24/12/2004