Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Educação nos tempos de violência

Educação nos tempos de violência

 

As formas de violência, na sociedade dos nossos dias, apresentam aspectos múltiplos. Lembramos os fatos do cotidiano – e a comprovação é mais que evidente. Por exemplo, o alto índice de abandono das escolas de nível médio pela troca por um possível emprego, mesmo que seja precário. Estudos da PUC e da UFRJ comprovam que o atraso escolar no morro é 34% maior do que no asfalto. Uma das razões mais plausíveis pode estar na economia interna da favela (1,8 milhão de habitantes do Rio), que favorece a absorção de mão-de-obra em atividades de menor exigência educacional. Reclama-se também da pouca participação dos pais no processo ensino-aprendizagem.


 


Outro fato concreto é o medo dos professores de seguidos tiroteios com ameaçadoras balas perdidas. Muitos deles deixam de dar aulas, por causa disso, sacrificando os alunos, na seqüência das matérias a serem lecionadas. Há também um fator nada desprezível, na comparação asfalto-favela. Nesta, os alunos chegam à escola já com dois anos de atraso, o que amplia a defasagem ensino-aprendizagem, com todas as seqüelas oriundas dessa distorção.


 


O Ministério da Justiça garante que os homicídios dolosos diminuíram no Rio de Janeiro e em São Paulo, no último ano, mas os números permanecem em patamares elevados, exigindo continuidade na ação policial, com os recursos indispensáveis da inteligência, nesse serviço. As regiões metropolitanas lideram a classificação dos crimes mais violentos, em 2005.


 


Além dos problemas referidos, crianças morrem vítimas de seguidos tiroteios, sobretudo nas favelas. Lohan Santos tinha 9 anos quando foi vítima de um tiro de fuzil, após enfrentamento de policiais e traficantes, no morro do Borel (Tijuca, Rio). Outra foi atropelada por um carro e outra foi atingida por bala perdida. Isso tudo no intervalo de uma semana, no que parece uma guerra sem fim.


 


Até os alunos, hoje, reconhecem que os professores têm uma profissão “extremamente difícil”. Como administradores de conflitos, muitas vezes eles também acabam se envolvendo, em geral na tentativa de solução, o que nem sempre se alcança, por circunstâncias variadas. Isso é muito comum, principalmente nas escolas públicas, arrefecendo o ânimo de alunos e mestres. Não é sempre que se respira um clima saudável, nas atividades correntes de um estabelecimento de ensino. Isso também representa violência ao direito de todos à educação, em clima de paz.


 

Não existe uma solução simples, para essa realidade complexa. Não se resolve nada promovendo a violência contra a violência. Isso causa mais vítimas inocentes, revoltando as comunidades atingidas. Há-de existir uma coexistência pacífica, que acabe com a sensação de medo que se instalou ao redor das escolas públicas dos nossos principais Estados, como se fosse uma praga que viceja, na aparência de uma solução que não vem. Capacitar adequadamente os policiais é uma obrigação do Estado. Melhorar as condições de vida do nosso povo, para que os jovens possam estudar e trabalhar livremente, eis o ovo de colombo a ser adotado pelas autoridades, como pudemos destacar em conferência na Escola da Magistratura do Rio de Janeiro (EMERJ).