As recentes revelações dos testes de avaliação da educação básica são suficientemente claras para se concluir que estamos "descendo a ladeira", em matéria de qualidade, nos últimos dez anos. Firmou-se o predomínio da escola particular, como era esperado, e mais do que nunca inferiu-se que não haverá o sonhado aperfeiçoamento sem que se atinja o ideal do tempo integral, a que se deve agregar a melhor formação dos professores e a garantia de uma remuneração decente.
No livro "Educação, Estágio e Trabalho" (Editora Integrare), que tivemos a honra de escrever ao lado do educador Paulo Nathanael Pereira de Souza, por inspiração do CIEE/SP, há uma gama variada de observações sobre as graves deficiências do nosso processo educativo, como bem indica o acadêmico Murilo Melo Filho, no seu denso prefácio: "Surgem diariamente novas e sofisticadas profissões, em nosso mercado de trabalho, mas os nossos jovens não têm tido as devidas oportunidades de emprego. Até o estágio tem sofrido dificuldades".
Sem entrar no mérito das judiciosas observações do nosso parceiro, pode-se acreditar que o ensino piorou em relação ao passado. Mais coisas são ensinadas e menos se apreende, numa relação inversamente proporcional. Há profissões impensáveis há alguns anos, mas hoje são necessárias diante do desenvolvimento científico e tecnológico, ressaltando-se a informática. Onde está a competência para trazer esse conhecimento ao cotidiano da escola?
O que mais nos falta, hoje em dia, é o capital humano preparado e atualizado, como bem requer o economista Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola. Assim será possível realizar trabalhos úteis com diferentes graus de complexidade e especialização. O que se deseja é obter a visão possível da ação integradora de teoria e prática, desde que certos óbices incompreensíveis, como os obstáculos que se criam ao desenvolvimento da política nacional de estágios, uma preciosidade de que não devemos abrir mão.
Que há necessidade de desconstrução da educação brasileira, não há dúvida. Muitas leis, sem um mínimo de coerência, com a prevalência da desfigurada Lei no 9.394/96, vítima de pelo menos 14 emendas desestruturantes, pintam o quadro que coloca em risco toda uma nova geração. Quem se preocupa com isso?
Nossa população economicamente ativa, hoje superior a 75 milhões de brasileiros, tem a vergonhosa taxa de 4,5 anos de preparo, o que nos distancia de países como a Coréia do Sul e o Japão, nos quais é o dobro. Não se pode aceitar essa realidade.
Um grande instrumento de ensino mais acelerado é a educação à distância, que já assinala mais de um milhão de alunos em nossos centros de produção. Seria formidável para o país se déssemos prioridade a essa modalidade, como fizeram a Índia e a Irlanda, tornando-se líderes mundiais na fabricação de softwares educativos. Se eles fizeram (e ganham um dinheirão com as exportações), qual a razão que nos leva a uma certa timidez, no trato dessa matéria? Ainda mais quando se sabe que a Era Digital se apresenta em seus primórdios, com todas as chances de provocar monumental transformação?
Estamos batalhando, no Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, organismo auxiliar do governo federal, para que esse atraso se transforme num imenso desafio, em que todos nos empenharemos, para ajuda à educação brasileira.
A Gazeta (ES) 16/3/2007