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A educação e o futuro

 

O Brasil é a 11ª economia do mundo. Com um PIB estimado de quase R$ 2 trilhões, convive lamentavelmente com uma educação das mais frágeis do planeta. Uma incoerência de difícil compreensão, sobretudo se escutarmos os discursos oficiais. É uma prioridade verbal, característica de carismáticos líderes latinos: estamos fartos de ouvir velhos refrãos, segundo os quais "a educação é a solução".


 


Como será a educação do futuro, em nosso país? As leis educacionais sempre se referem à erradicação do analfabetismo em "x" anos. Tudo balela. Hoje, ainda exibimos 16 milhões de analfabetos entre 15 e 34 anos de idade. Eles pesam sobre a nossa população economicamente ativa. A educação infantil jamais foi prioritária e não se vislumbra qualquer grande e sério projeto, digno de ser apoiado, para acabar com essa deficiência na origem.


 


Em tempo recente, comemorou-se a quase universalização do ensino fundamental. Nem uma palavra foi pronunciada sobre a qualidade do ensino, tristemente abaixo da crítica. A maior causa? Pode ser buscada na formação deficiente dos nossos quase 2 milhões de professores, além do desestímulo representado pelos baixos salários.


 


Enquanto pagamos a média de US$ 200 a professores em início de carreira, o Japão fixou-se em cerca de US$ 2 mil, quase o mesmo do que se paga na Coréia do Sul. Enquanto isso não for corrigido, drasticamente, as chances de aperfeiçoamento da relação ensino-aprendizagem são mínimas.


 


Existe o ensino médio, tumultuado por uma caótica legislação. O profissionalismo entra e sai, de forma irresponsável, sacrificando as chances de emprego da nossa juventude, nas profissões de nível intermediário. Há necessidade de técnicos em informática, polímeros, fármacos, siderurgia, petroquímica, construção naval, etc, para nos limitarmos ao Rio de Janeiro. O mercado cresce mais rápido do que a nossa capacidade de formar essa gente especializada, apesar dos esforços bem nítidos do governo estadual, que enfrenta obstáculos não raro intransponíveis.


 


Chegamos ao ensino superior, com quase 5 milhões de estudantes no Brasil inteiro. É truísmo afirmar que estamos muito atrás de países como a Argentina, o Chile e o México, sem contar as nações pós-industrializadas. Hoje, com 189 milhões de brasileiros, deveríamos ter perto de 8 milhões de universitários. Não existe a menor possibilidade de alcançar esse número a curto prazo, pois as universidades oficiais estão sucateadas (as promessas oficiais são pífias) e as particulares vivem uma crise sem precedentes, com uma taxa de inadimplência perto de 40% nos grandes centros urbanos.


 


Isso sem contar os currículos ultrapassados, a duração dos cursos que os alunos contestam, o mau estado de escolas que chegam até a inviabilizar o próprio aprendizado, além da falta de boas bibliotecas e laboratórios compatíveis com a modernidade.


 


Avançamos na Universidade Aberta e breve chegaremos a 1 milhão de alunos estudando via educação à distância. Mas isso convive com 30 mil escolas que se situam em regiões sem energia elétrica, portanto, sem a menor chance de utilizar os benefícios dos computadores.


 


O país é mesmo desigual e injusto. É preciso mudar drasticamente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, datada de 1996, enquanto o governo central só pensa (e mal) na reforma universitária e deixa o ensino básico entregue à sua própria sorte.


 


Outro fato quase caricato de todo esse processo são os estudos do Núcleo de Ações Estratégicas do governo federal. Para melhorar de vida, ele prevê que os professores devam ter descontos especiais nos ingressos de cinema, teatro e shows. Além disso, comprar remédios mais baratos. Não é por aí que conseguiremos resolver um problema tão grave e tão profundo, que tem desafiado a capacidade brasileira de solucioná-lo e que precisa antes de mais nada de honestidade, dedicação e competência.


 


O que os mestres precisam mesmo é de bons salários.


 


Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 20/09/2006

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 20/09/2006