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É bom, legal e não engorda

 

Em meio a tanta notícia ruim, algumas repetitivas, como os malfeitos na política, achei pelo menos uma boa. Parece que não está mais vigorando o princípio cantado por Roberto Carlos de que o que é bom é ilegal, imoral ou engorda. Já existe até o movimento Comer Bem é Tudo de Bom.

Uma pesquisa acaba de revelar que, mesmo com a crise econômica, o setor de alimentação no Brasil está crescendo graças aos alimentos saudáveis. Já é o quarto mercado no mundo. Estamos preferindo os produtos que não fazem mal à saúde. “Estamos” é um certo exagero, porque, de minha parte, ainda não me livrei das tentações doces e salgadas, principalmente estas últimas.

Como salada todo dia, mas não pela alface e o tomate, mas pelo azeite e o sal. De maneira geral, porém, os números indicam que o consumidor brasileiro fez cortes radicais na sua dieta alimentar.

Diminuiu drasticamente o uso do sal e do açúcar; os que têm intolerância ao glúten cortaram definitivamente a proteína que se encontra no trigo, centeio e cevada. E tudo isso regado por sucos detox, que eliminam as toxinas, promovendo uma limpeza interna.

Mas a grande novidade para mim é a moda dos produtos orgânicos, ou melhor, a voracidade com que eles estão sendo consumidos, apesar de serem mais caros. Hoje, até o nosso suculento feijão com arroz, um prato básico, pode ser feito com arroz integral e feijão orgânico.

Um dos precursores dessa agricultura entre nós foi o ator Marcos Palmeira, na sua fazenda na Serra Fluminense. Mesmo antes de comercializar seus produtos, como faz agora, ele nunca usou adubos químicos, pesticidas, nada enfim de agrotóxico.

A graça é que ele foi criado ouvindo em casa dos pais, Vera de Paula e Zelito Vianna, as discussões de intelectuais orgânicos brasileiros, como Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder.

Eles pertenciam a essa categoria, criada pelo filósofo italiano Antonio Gramsci, a dos pensadores que punham a inteligência e o saber a serviço da classe trabalhadora, ajudando-a a desenvolver sua consciência crítica. Com perdão do infame trocadilho, ali era um canteiro onde germinavam as ideias de um socialismo que considerava a democracia como valor universal.

Curiosa a trajetória de certas palavras, que, como seres vivos, nascem, morrem ou se transformam. Nos anos 60, “orgânicos” eram os intelectuais; hoje, são os produtos.

O narcisismo de Alice está preocupando. A mãe lhe conta que Pedro Verissimo fez uma música em que o nome dela aparece uma vez. A reação: “Só uma vez?!”. Dizem que sou o culpado. Por isso, torci para que o nome da nova princesa do Reino Unido não fosse Alice. Minha neta ia achar que era em sua homenagem.

O Globo, 09/05/2015