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Dr. Daher Cutait e o túnel

 

Conheci o saudoso Daher Cutait, professor de medicina e médico, coberto de louvores, no Rotary Club. Ficamos amigos e quando minha amada mulher foi internada no Hospital Sírio Libanês, do qual ele era diretor, nossa amizade estreitou-se, por ele visitá-la todas as manhãs.


Conhecia-o, porém, de nome e renome, pois era professor da Faculdade de Medicina da USP e mantinha consultório, com seu filho, também professor de medicina, com vasta clientela. Todos que dele se socorreram no exercício da nobilíssima profissão tinham-lhe gratidão pelo que receberam de sua ciência e sua bondade.


Foi, portanto, com pasmo que tomei conhecimento da notícia da homenagem que a prefeita Marta Suplicy lhe prestou, dando seu nome ao túnel da avenida 9 de Julho. Um lamentável erro, que desgostou todos os velhos paulistas, com lembrança viva da Revolução Constitucionalista, e os jovens que tomaram conhecimento da epopéia vivida com armas na mão por dezenas de milhares de paulistas, que lutaram pela Constituição que Getúlio não queria dar, para governar como ditador, muito ao gosto dos positivistas do Rio Grande do Sul.


Esse, pois, o que considero erro grave, como tantos outros, cometido pela gentil senhora Marta Suplicy. Não sei de onde lhe veio a inspiração, provavelmente de algum mau paulista. O certo é que não cabia essa homenagem ao grande médico, grande professor de medicina, grande amigo que foi Daher Cutait.


Uma rua, com justificados méritos, que outros nomes, infelizes e sem nenhuma significação não possuem, uma praça, uma avenida ou uma escola, que Daher tinha sua pedagogia e a bondade como principio de vida. Com essa pedagogia ele muito fez pelo próximo, o irmão do Evangelho. Não direi que foi propositado a senhora prefeita da época dar o nome a um túnel, foi sua ignorância do passado paulista. É isso, mas é muito para quem quer ser governadora de São Paulo.


O túnel tem um valor simbólico para os velhos amorosos de São Paulo. Foi no túnel que as forças constitucionalistas comandadas pelo general Euclides Figueiredo encontraram a maior resistência dos legalistas de Getúlio Vargas e outros que o cercavam no Catete. O túnel está tão intimamente ligado à Revolução Constitucionalista quanto Ibrahim Nobre, o grande tribuno, César Ladeira no rádio ou Guilherme de Almeida na poesia, cantando a epopéia que envolveu todo o São Paulo da época, menos os renegados que habitavam São Paulo, partidários de Getúlio Vargas e de sua ditadura ainda no início.


A prefeitura, com José Serra no comando, como prefeito, deve escolher outro local para homenagear, merecidamente, o saudoso Daher Cutait, e deixar o túnel como patrimônio dos paulistas ligado, direta ou indiretamente, à gloriosa Revolução Constitucionalista.


É o que tenho a dizer sobre o assunto, agora que se vai comemorar no dia 9 de Julho mais um aniversario do levante épico de São Paulo, ao qual a Associação Comercial e tantas outras entidades estão indissoluvelmente ligadas.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 28/06/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 28/06/2005