Quinta-feira passada, na sessão habitual da Academia Brasileira de Letras, presentes dois médicos acadêmicos, Ivo Pitanguy e Moacyr Scliar, comentou-se aquilo que os jornais estão chamando de “pandemia”: a gripe suína. Na condição de sanitarista, Scliar explicava o que podia e dava conselhos genéricos aos colegas, que, apesar de imortais, muito se preocupam com tudo aquilo que ameaça a própria e discutível imortalidade.
Não vou repetir os conselhos do Scliar. Ao final, eu lhe perguntei se não havia um jeito de mudar o nome da doença. Morrer não chega a ser das coisas mais agradáveis, e morrer de gripe suína é dose, um pleonasmo do azar.
Não é nada não é nada, quando cheguei em casa, soube pelos telejornais que os suinocultores de todo o mundo haviam conseguido mudar o nome da gripe, que passou a ser uma referência técnica, parecida com uma doença de ficção científica.
Em criança, falavam em espinhela caída. Até hoje não sei do que se trata, mas sinto ainda frio na espinha quando penso na doença que era comum no Lins de Vasconcelos.
Birra especial tinha pela sífilis, que era “syphilis”, provocada por um micróbio que atendia ao nome científico de Treponema pallidum. Nada contra o ‘Treponema’ em si – que também não sei o que é –, mas contra o “pallidum”. Quando me diziam ‘Este menino está pálido’, eu corria ao espelho para examinar a devastação, que acreditava ter início pela língua.
Nome de doença é importante pra burro. Lembro a piada do sujeito que encontrou o rapaz e perguntou pelo pai. ‘Morreu’. O sujeito se espantou: ‘Morreu? Mas como?’. ‘De pneumonia’. Alarmado, fez outra pergunta: ‘Dupla?’. A resposta foi: ‘Simples’.
O sujeito deu um suspiro de alívio: “Ah!...”.
Jornal do Commercio (RJ), 5/5/2009