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Desafios ao Brasil

 

O meu amigo Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE/SP, chama a atenção para a qualidade do livro “Desenvolvimento e perspectivas novas para o Brasil”, da Cortez  Editora, escrito pelo professor Márcio Pochmann, da Unicamp, que é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Encontramos na obra recomendações explícitas para a maior aproximação possível do ensino aos requisitos da demanda econômica, por meio do estágio (já consagrado) e de curtos períodos de labor, ao longo do ano, como nas férias escolares.

Para se ter  ideia do nosso crescimento, veja-se a expectativa de vida do brasileiro, que era de 55 anos de idade, na década de 60, e hoje cresceu nada menos de 18 anos.  O ensino superior, na época mencionada, abrigava 93 mil graduados (1% dos nossos jovens de 18 a 24 anos) e hoje se encontra perto de 13%, o que ainda é  insuficiente, tanto que se projeta com rapidez chegar aos 20%, com a ressalva de que se deve assegurar a indispensável qualidade.

Se pensarmos nos últimos 50 anos, deve-se considerar que 82% das oportunidades educacionais estavam localizadas no centro-sul do país, mostrando sintomas de uma brutal desigualdade, hoje em início de correção, com a bela contribuição de  maiores e melhores acessos da classe média aos bens da produção.  Caminhamos para a sociedade pós-industrial sonhada por tantos economistas.

Na página 172 do livro mencionado, Márcio Pochmann aborda a  implementação do plano de expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica.  Virão 214 novas unidades, previstas para funcionar em diferentes espaços geográficos, “podendo anotar-se esforços importantes em termos de ampliação do ensino superior público.” Sinceramente, nesse último aspecto, sente-se uma deplorável lerdeza, além de barreiras impostas pelo excessivo corporativismo das instituições, além de uma clara politização que conduz à inércia, como se vê  no noticiário em torno da Universidade de Brasília, outrora uma grande esperança.

A escolaridade média da população ainda se encontra abaixo dos oito anos, que seria o mínimo tolerável pela Constituição de 1988, e vivemos um desencontro que o livro de Pochmann registra com muita firmeza: “Para os 20% mais ricos, a escolaridade média supera os 10 anos, enquanto os 20% mais pobres mal  chegam aos cinco anos.”  Eis aí o quadro dramático da desigualdade nacional, difícil de corrigir quando se sabe que ações para crianças e adolescentes, no Brasil, se espalham por 110 programas dispersos em diversos ministérios da esfera federal, sem contar iniciativas semelhantes dos governos estaduais e municipais.

É ressaltado o papel estratégico da educação na passagem para a sociedade pós-industrial (página 180):  “Devemos passar da fase em que somente estudam crianças, adolescentes e alguns jovens.”  A nova sociedade é portadora de exigências muito sérias, como a educação para toda a vida.  É o ideal que perseguimos. 

A Gazeta (ES), 21/7/2011