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Desafio às UPPs

 

Os traficantes voltaram a desafiar a política de pacificação do governo. Desta vez, em Santa Teresa, em cujas favelas ocorreram intensos tiroteios na sexta-feira e no domingo passados, deixando seis mortos, inclusive um jovem por bala perdida, sem qualquer envolvimento com o crime. Os confrontos começaram quando cerca de 50 bandidos do Fallet e do Fogueteiro invadiram o Morro da Coroa para retomar o controle da venda de drogas de uma facção rival. Detalhe: as três comunidades contam com UPPs.

Outro sinal de alerta preocupante acaba de ser lançado pela repórter Vera Araújo, ao mostrar que vários projetos sociais diminuíram ou encerraram suas atividades no Morro do Alemão, que também tem UPP, por medo da violência e da ação dos criminosos. Não são apenas iniciativas de 17 ONGs, mas também dos governos federal, estadual e municipal, através de importantes programas de capacitação de jovens, tais como alfabetização e reciclagem de computadores. Sem falar na prática de esportes na moderna vila olímpica, cuja piscina chegou a receber a festiva visita em 2012 do campeão americano Michael Phelps.

Hoje, os azulejos estão quebrados e a água é um lodo verde. Há mais de dois meses, atividades como natação e hidroginástica estão paralisadas. Também as quadras de futsal e vôlei precisam de reformas, assim como a grama sintética do campo de futebol, que está cheia de buracos. O pior: os salários dos funcionários terceirizados estão dois meses atrasados. A vila atendia a mais de quatro mil pessoas entre crianças e adultos.

Em vários outros programas aconteceu o mesmo: evasão dos participantes ou desistência de patrocinadores. Uma escola que em 2009 tinha 1.300 estudantes, agora tem 700. Uma iniciativa de reforço escolar que em 2012 era frequentada por 350 alunos sofreu queda de 82%. Agora são apenas 63 estudantes. Um projeto de aulas de dança e artes cênicas registrou uma redução de 50% dos alunos.

A justificativa apresentada para a redução dos recursos é a crise financeira geral, mas a carência coincide com o recrudescimento da violência no Morro do Alemão, indicando que a causa é mesmo o medo causado pelos tiroteios. Isso põe por terra a alegação de que é por falta de projetos sociais que algumas UPPs não estão dando certo ou enfrentam resistência. Dizia-se que quando há a invasão de cidadania, junto com a ocupação da polícia, até os traficantes respeitam. Na verdade, o tráfico não quer saber de benfeitorias nas comunidades.

Ao fazer o balanço dos sete anos de seu projeto de pacificação, que é positivo, o secretário de Segurança afirmou que “nenhum território foi tomado pelos bandidos e nem será”. Isso, no entanto, não está impedindo que eles atentem contra a vida dos moradores de comunidades já pacificadas.

O Globo, 13/05/2015