Destaco um aspecto enaltecedor da democracia brasileira. Evoluímos das atas falsas do PRP, na Primeira República, às máquinas de votar das eleições atuais. Passamos das cédulas eleitorais impressas pelos partidos às cédulas oficiais, e hoje estamos votando com celeridade e apuração no mesmo dia.
Não há dúvida, portanto, que nos apresentamos ao mundo como uma democracia que fez progresso e que se apresenta às demais democracias com uma nota positiva de grandeza. Mas esse é um aspecto. A democracia não é somente eleitoral, embora eleitoralmente é que se destingee dos regimes totalitários e ditatoriais.
O espetáculo que as eleições dão nos anos eleitorais é satisfatório, pois o comparecimento é sempre elevadíssimo. Esse comparecimento resulta do voto obrigatório; pode ser, mas o Brasil sempre deu espetáculos como esse, pois o brasileiro demonstra estar sempre politizado.
O aspecto negativo da democracia brasileira - e esse é da mais alta importância - situa-se na força irresistível do dinheiro, como estamos sabendo em abundância na Comissão Parlamentar de Inquérito que apura os bastidores da política nacional.
Na realidade, estamos numa democracia que se desvirtuou, passando à plutocracia, isto é, democracia do dinheiro, como os americanos conheceram e combateram em seu tempo, quando os barões-ladrões pontificaram na política e a dominaram. Esse é mais um grandíssimo mal, que se juntaria ao referido por mim quando transcrevi a esse respeito Rui Barbosa.
Temos que purificar a democracia brasileira, todos os que tiverem capacidade e disposição para esse trabalho, a fim de que ela apareça na sua austeridade como um exemplo de regime, de respeito à pessoa humana e aos seus direitos, vivendo em um país tão corrompido, como o atual. Infelizmente.
Diário do Comércio (São Paulo) 08/12/2005