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A defesa da língua

 

Com a presença de grandes especialistas, a Academia Brasileira de Letras promoveu um ciclo de conferências sobre a valorização da língua portuguesa. O evento é coerente com o artigo 1º do seu pétreo estatuto, assinado por Machado de Assis, que prevê cuidados especiais com a nossa língua e a literatura nacional.

No dia em que falaram os professores Cláudio Cezar Henriques e José Carlos Azeredo, sob nossa presidência, o tema específico referiu-se à gramática, considerada a essência da linguagem. 

Hoje, há uma luta surda entre gramáticos e linguistas, com evidentes prejuízos para os estudantes. Uma das consequências dessa realidade é a presença menor da Literatura nas questões do Enem, um evidente absurdo, perpetrado por linguistas das universidades oficiais, contratados pelo Inep para a formulação das provas. 

Esse fato levou a Câmara dos Deputados, por iniciativa da Deputada Maria do Rosário, a convocar uma audiência pública para tratar da matéria. Lá estivemos, como representantes da ABL, defendendo o nosso ponto de vista, que coincide com o pensamento da Casa de Machado de Assis: "Sabedora de que as obras literárias oferecem uma possibilidade ímpar para diversificar experiências, compreender o outro, confrontar pontos de vista e ampliar ideias, bem como para refletir sobre valores, reforçar o humanismo e o pensamento 
crítico, a Academia Brasileira de Letras reitera que o acesso a esse universo da literatura é um direito de todos os cidadãos, um patrimônio de todos os brasileiros que não pode de nenhuma forma ser subestimado". 

Em manifestação aprovada por unanimidade pelo seu plenário, a ABL insiste na defesa da língua, da literatura e da cultura nacional como patrimônio inalienável dos brasileiros, alertando para a necessidade de que não se reduzam os espaços de acolhimento desses elementos no processo educacional. 

Retornando ao seminário "De volta à gramática", assistido por um grande público, no Teatro R. Magalhães Jr., entendemos que não se deseja a gramática limitada a um rol de recomendações que discriminam formas corretas ou erradas, ou a uma lista de classes e respectivos rótulos, mas a gramática como o sistema que organiza as estruturas da língua no exercício de suas infinitas possibilidades significativas e de suas variadas finalidades socioculturais. 

Num País em que 14 milhões de estudantes não têm acesso a qualquer tipo de biblioteca, nem mesmo às chamadas salas de leitura, manifestamos igualmente nossa preocupação com a deficiente formação de professores e especialistas, em todos os níveis, quando é sabido que o ideal seria o seu aperfeiçoamento e o necessário contato com a literatura, de modo a valorizar esse importante legado. 

Jornal do Commercio (RJ), 22/12/2015