Se Fernanda Torres perder o Oscar de melhor atriz para as lambisgoias que concorrem com ela, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood estará apenas confirmando sua tradição de bolas fora. Afinal, 2025 não é 1950, quando o Oscar de melhor atriz foi disputado por nada menos que Gloria Swanson em "Crepúsculo dos Deuses", Bette Davis e Anne Baxter em "A Malvada", Eleanor Parker em "À Margem da Vida" e Judy Holiday em "Nascida Ontem". Gloria e Bette eram as favoritas, mas qualquer uma poderia ter levado. Judy levou e ninguém se queixou.
Em 1959, a sublime Simone Signoret foi premiada por "Almas em Leilão", mas a vitoriosa deveria ter sido Marilyn Monroe por "Quanto Mais Quente Melhor" —e olhe que Marilyn não foi nem indicada. Em 1960, os jurados deram a Elizabeth Taylor, pelo opaco "Disque Butterfield 8", o Oscar que poderiam ter-lhe dado no ano anterior por seu arrasador trabalho em "De Repente, no Último Verão". E, com isso, deixaram de premiar Shirley MacLaine por "Se Meu Apartamento Falasse".
Em 1965, os jurados se confundiram e premiaram a insípida Julie Christie por "Darling" quando, nitidamente, queriam dar o Oscar a Julie Andrews por "A Noviça Rebelde". A culpa foi da cédula eleitoral, impressa num corpo minúsculo, difícil de ler pelos velhinhos eleitores.
Mas nada supera a tragédia de 1954. Judy Garland, favorita disparado por "Nasce uma Estrela", ia ter neném na noite da cerimônia. Fotógrafos e cinegrafistas tomaram o hospital com câmeras e luzes para registrar sua emoção ao ver, pela televisão, seu nome ser anunciado. Mas a vitoriosa foi Grace Kelly, por sua apagada atuação em "Amar é Sofrer". Em dois minutos, todas as câmeras e luzes foram desmontadas e os rapazes deram o fora sem ver a expressão de profunda decepção de Judy.
Por que ela não ganhou? Porque "Nasce uma Estrela" teve uma produção caótica, a Warner o odiava e o distribuiu pessimamente. Nem todos os jurados o viram. Às vezes, vence a atriz do filme mais assistido.