Da arte da espada
Há muitos séculos, na época dos samurais, foi escrito no Japão um texto sobre a arte espiritual de manejar a espada – A Compreensão Impassível – também conhecido como O Tratado de Tahlan, nome de seu autor (que era ao mesmo tempo um mestre de esgrima e um monge zen). Adaptei a seguir alguns trechos:
Mantendo a calma
Quem compreende o sentido da vida sabe que nada tem início e nada tem fim, e, portanto, não fica angustiado. Luta pelo que acredita sem tentar provar nada a ninguém, guardando a calma silenciosa de quem teve a coragem de escolher seu destino.
Isso vale para o amor e para a guerra.
Deixando o coração estar presente
Quem confia no seu poder de sedução, na capacidade de dizer as coisas na hora certa, no uso correto do corpo, fica surdo para "a voz do coração". Esta só pode ser escutada quando estamos em perfeita sintonia com o mundo a nossa volta, e jamais quando nos julgamos o centro do universo.
Isso vale para o amor e para a guerra.
Aprendendo a ser o outro
Estamos tão centrados naquilo que julgamos ser a melhor atitude que esquecemos algo muito importante: para atingir nossos objetivos, precisamos de outras pessoas. Portanto, é necessário não apenas observar o mundo, mas imaginar-se na pele dos outros, e saber como acompanhar seus pensamentos.
Isso vale para o amor e para a guerra.
Encontrando o mestre correto
Nosso caminho irá cruzar sempre com muita gente que, por amor ou por soberba, quer nos ensinar algo. Como distinguir o amigo do manipulador? A resposta é simples: o verdadeiro mestre não é aquele que ensina um caminho ideal, mas o que mostra ao seu aluno as muitas vias de acesso até a estrada que ele precisará percorrer para encontrar-se com seu destino. A partir do momento em que encontra esta estrada, o mestre não pode mais ajudá-lo, porque seus desafios são únicos.
Isso não vale nem para o amor, nem para a guerra – mas sem compreender este item, não chegaremos a lugar nenhum.
Escapando das ameaças
Pensamos muitas vezes que a atitude ideal é dar a vida por um sonho: nada mais errado que isso. Para atingir um sonho, precisamos conservar nossa vida, e, portanto, é obrigatório saber como evitar aquilo que nos ameaça. Quanto mais premeditarmos nossos passos, mais chances temos de errar – porque não estamos levando em consideração os outros, os ensinamentos da vida, a paixão e a calma. Quanto mais acharmos que temos o controle, mais estaremos distantes de controlar qualquer coisa. Uma ameaça não dá avisos, e uma reação rápida não pode ser programada como um passeio durante a tarde de domingo.
Portanto, se você quiser entrar em harmonia com o seu amor ou com o seu combate, aprenda a reagir rápido. Por meio da observação educada, não deixe que a sua suposta experiência de vida o transforme em uma máquina: use esta experiência para escutar sempre a "voz do coração". Mesmo que não esteja de acordo com o que esta voz está dizendo, respeite-a e siga seus conselhos: ela sabe o melhor momento de agir e o momento de evitar a ação.
Isso também vale para o amor e para a guerra.
Jornal de Brasilia (Brasília) 18/06/2006