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A compra de parlamentares

 

Não vou defender Lula, que tem quem o defenda, a começar por ele mesmo. Um deputado como o sr. Jefferson, nome ilustre nos Estados Unidos e aqui maculado por uma ação condenável.


Vou citar um nome ilustre na Inglaterra do século XVIII, Robert Walpole, conde de Oxford, que segundo a lenda ou a história tinha nos bolsos a lista dos deputados venais e agia com cautela e habilidade para trazê-los ao seu redil. Praticou essa política durante algum, até que o puritanismo britânico o fez parar.


Evidentemente, esse episódio foi num passado distante. Hoje, a Inglaterra é o país mais bem governado do mundo e os fiascos de Blair, que não tem a experiência política de modernos primeiros-ministros, são comentados pela imprensa libérrima da velha Albion de sua graciosa majestade, Elizabeth II.


Concordemos que o Brasil de hoje está longe da Inglaterra de quase todo o século XVIII. Quem influia no Brasil, com suas exemplares instituições, foi o Império de Dom Pedro II. Vastamente elogiado pelo eloqüente Rui Barbosa, em discursos que mostraram o arrependido da campanha republicana.


Mas o Império foi derrubado exatamente quando a nação estava calma, em ordem, e republicanos eram uma escassa minoria que não devia fazer sombra à grandeza do governo da época, com a Constituição da época, de autoria do Marquês de São Vicente, um dos grandes brasileiros de seu tempo.


Mas volto, assim mesmo, para o tempo de Walpole. Foi curto, e nunca mais, desde então, se falou em compra de deputados, que constituiria um choque brutal para a opinião pública britânica. Fiquemos no Brasil, onde o presidente eleito por maioria de votos pouco trabalha como presidente, por preferir as vantagens no seu saboroso Airbus.


A verdade sobre o que está acontecendo é que não institucionalizamos a democracia, e fala-se muito em reformas, mas todos querem que fique tudo como está, isto é, a crise sem paradeiro à vista. Agora a mídia tomou conta do assunto corrupção e tem insistido, visando a purificação do regime, contra a repetição, sem afrouxamento, da situação de crise, em que estamos mergulhados no presidencialismo que copiamos dos americanos, no primeiro decreto baixado pelo governo provisório com a redação de Rui Barbosa, e presidido pelo marechal Deodoro.


Enfim, o que desejamos é que o país esteja sempre em calma, que a corrupção deixe ser o plat du jour e que o desenvolvimento eleve o padrão de vida de todos os brasileiros, que dele necessitam. Vençamos o mar de lama, que atormentou Getúlio Vargas e acabou manchando de sangue a nossa história política.


Não queremos tragédias, nem compra de deputados, em suma, não queremos uma nação bem dotada e um país encantador com as manchas que lhe causam os maus mandatários eleitorais, que não temem fiscalização, nem a mídia, que é adiantadíssima.




Diário do Comércio (São Paulo) 15/06/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 15/06/2005