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Como vai a Itália?

 

A influente e milionária revista The Economist trouxe num de seus números passados uma nota qualificando a Itália como homem doente da Europa. Essa expressão foi cunhada antes da Primeira Guerra Mundial por um político, se bem me lembro inglês, mas cujo nome me escapa.


Não importa, tenho a dizer a esse estudioso da história que não creio estar a Itália à beira do colapso total de sua economia, e, portanto, de suas instituições. Isto porque os italianos são mestres de raríssima perícia para saírem de dificuldades, que, de resto, para quem conhece a história, se repetem desde tempos praticamente imemoriais.


Quem de nós não tomou conhecimento de crises italianas, sempre com os mesmos atores ou políticos? O advento do fascismo deveu-se à crise politizada, que Fata, primeiro ministro, não sabia resolver. Foi ele ao rei Victorio Emanuel e pediu a dissolução da Câmara e fez o apelo aos partidários do Duce para assumirem o governo. Foi quando Mussolini assumiu. Pouco depois Mussolini pensou em renunciar e foram os companheiros de jornada, já no poder, que obstaram o seu gesto, antes teatral do que decisivo.


Durante a democracia cristã e, depois, no período de pós-guerra até os dias de hoje, e agora, mesmo, sucederam-se as crises e a Itália continuou firme, com a dolce vita , com o ferragosto , com a alegria de viver de suas várias sociedades, duas aristocracias, de uma burguesia, gente rica e gente pobre, regiões diferentes em desenvolvimento e tudo o mais; a península está firme.


Está certo que uma revista da importância e da influência no público leitor e na mídia, que comenta os seus artigos e toda a sua matéria, sempre faz comentários oportunos. Faz poucos anos, a Itália estava opulenta. Veio daí uma crise e mais outra, até que houve mudança política e tudo se arranjou. Povo inteligente, capaz de sacrifícios mas também habilissimo em protestos e combinações de vários gêneros, passam todos do caos ou da confusão e chegam a um acordo, rindo como num filme de Fellini, de saudosa memória.


O The Economist fez bem em publicar a nota, embora praticamente passando um pito nos políticos italianos, mas eles estão acostumados com o que possa acontecer e vão tocando a vida, que é o que seu povo quer.




Diário do Comércio (São Paulo) 21/06/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 21/06/2005