Notícias da Venezuela nos indicam que o presidente Hugo Chávez não sai ganhando nas eleições de domingo, segundo o Instituto de Opinião Pública, que, ao contrário, dá a vitória à oposição.
Chávez é um desses presidentes latino-americanos que tradicionalmente, de tempos em tempos, irrompem na cena política, uns com ênfase outros menos enfáticos, mas em geral todos obedientes à demagogia caudalosa que a língua castelhana facilita, numa só forma de manifestação de desejo político.
Estudei a América Latina no meu primeiro livro da fase literária e mostrei que o presidencialismo herdado dos Estados Unidos fracassou em todos os países, não detendo as sucessivas crises que o abalaram ou que abriram caminho para a ditadura.
Segundo Harold Laski, em seu estudo The American Democracy , o presidente no regime presidencial é, ás vezes, pouco mais ou menos que um ditador.
Nós, brasileiros, tivemos este presidente e outras nações como a Argentina, Venezuela, Colômbia, Equador, México, países da América Central, e outros, passaram pela mesma tese do ensaísta inglês. Seria interessante que os estudiosos da economia, em suas ligações com a política, estudassem os prejuízos que o presidencialismo mal digerido acarretou para os países que o adotaram, um século e meio depois das independências, contra o severo juízo do mesmo autor, segundo o qual esse regime não deveria ser importado dos Estados Unidos, único país onde ele se deu bem.
O caso Chávez não é, portanto, estranho aos políticos da América Latina. O que se vê é que a sua maneira de fazer política só impressionou uma parte da massa da sociedade venezuelana. O que vai sair daí é imprevisível.
Diário do Comércio (São Paulo) 06/12/2005