No quadro político brasileiro que desponta na nova década impõe-se a pergunta: o que fará a prazo curto e médio este povo de Lula amarrado ao presidente, independentemente do partido. Falta-nos ainda a perspectiva para saber o quanto o apoio sai, da figura, para os novos rumos do Brasil da mudança em nova maturidade da nossa consciência política. Ao mesmo tempo, a oposição mal começa a enfrentar os confrontos regionais que despertará uma candidatura Serra, confrontando o super Estado frente ao resto do País, ou às rupturas das alianças municipais e estaduais clássicas, pelo avanço do PAC.
Este fim de ano, por outro lado, exauriu, de vez, do país anti-Lula a retórica moralista, ao se ver o nível da democraticíssima corrupção brasileira, de como chegou ao núcleo pelo PSDB e pelo DEM. Não nos demos conta, ainda, da resistência coriácea do sistema ao escândalo, nesta pertinácia com que o governador Arruda joga com a boa desmemória frente à mais sistemática e ampla das
propinas como facilitário do poder.
O mensalão já se esbateu nesta lembrança política do “povo de Lula”, que não se sensibiliza com o que vê como a abominação prevista do sistema, e avançou aos 82% do apoio presidencial, enquanto o PT fica a menos de metade deste suporte. A onda Lula não precisa de testa de chapa petista na maioria dos estados, mas a sua falta evidencia, também, a dificuldade de renovação geracional da legenda já há quase década no poder.
O apoio presidencial não só superou a mediação de quadros, mas uma identificação espontânea de lideranças. Tal como se, nesse inconsciente coletivo, não existisse um “pós-Lula”, mas um presente perpétuo da “chegada lá”, no Planalto. Não há repto entre personalidades para o novo mandato, mas exigência da continuidade de um situacionismo que nunca chegou, na nossa história republicana, a uma popularidade plenária ao fim de um segundo mandato.
Dilma não tem candidaturas rivais, mas, sim, todos os trunfos para responder à decantação de um sentimento coletivo na próxima ida às urnas. O avanço de sua popularidade frente a Serra é a desse progresso paulatino, em que o eleitorado se dá conta da evidência do futuro, e tal diante dessa alternativa paulista, que sai da ortodoxia tucana a semelhar, até, uma escolha à esquerda em que hoje se vertem os rumos políticos do País.
A certeza, daqui para outubro próximo, dessa convicção política pode ter levado a decisões como a de Aécio, de não disputar a Presidência, ou mesmo a vice, em bem do seu futuro político a longo prazo. Os percalços ainda da candidatura do Planalto vão, sim, à candidatura do companheiro de Dilma, que aprisionará a chapa a um nome paulista pelo PMDB. Tal condenação ao super Centro-Sul dá a vantagem a Serra de um vice nordestino, mas dificilmente o perfil desta escolha sai da alternativa entre chefias jagunças ou cangaceiras dos baronatos da velha clientela brasileira. Até onde o País a que definitivamente não se quer voltar já foi julgado pela opinião pública, no affair Sarney, ou permanece na tranquilidade impune da última governança do DEM no Distrito Federal? O voto-opção não perdoa mais as hesitações do País do “tudo bem”.
Jornal do Commercio (RJ), 31/12/2009