Recebemos algumas perguntas sobre o emprego ou não do hífen em determinados casos especiais. Vamos responder a elas em conjunto por estarem mais ou menos relacionadas.
Uma leitora nos indaga se os vários tipos de queijo (parmesão, por exemplo) levarão hífen, como aparece na tradição lexicográfica mais recente, bem como no Vocabulário Ortográfico da ABL, o tipo "queijo-cavalo". Nessa mesma tradição os diversos tipos de queijo comparecem seguidos de locução (queijo do reino, queijo de minas, queijo de soja) ou de adjetivos (queijo parmesão, queijo flamengo, queijo prato - isto é, da cidade italiana Prato, donde se tornou conhecido), todos hoje escritos sem hífen, em conformidade com o novo Acordo. Desta norma diverge o tipo "queijo-cavalo" com hífen, que cremos dever acertar o passo com seus irmãos congêneres e perder a grafia com hífen. Nada há nele que justifique essa exceção; portanto, "queijo cavalo".
Outro leitor da coluna pergunta se devemos escrever "município-polo" ou "município polo". Ora, trata-se aqui de uma palavra composta constituída de dois substantivos, em que o segundo exerce uma função predicativa que designa a finalidade do primeiro, e há entre eles uma relação de coordenação. E, nesta condição de composto, o Acordo registra o emprego do hífen. Portanto, devemos escrever"município-polo", diferentemente das combinações que não constituem compostos, como "município grandioso", "município populoso" etc.
Também nos indagaram"se a ABL está seguindo a norma do Acordo quanto à repetição do hífen nas quebras de linha com palavras hifenizadas. Ex.: tomar-/-lhe". Conforme o Acordo, no final da Base XX: "Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no inicio da linha imediata."
Nem sempre os formulários e manuais ortográficos incidem nessa recomendação. O nosso Vocabulário Ortográfico de 1943 é omisso neste particular; o texto oficial português de 1945 é mais prudente, e apenas recomenda na Base XLVIII, 6ª, que, em tais ocorrências de translineação, "pode, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata.". Dada a inobservância geral desta prática, o "dever" no novo Acordo parece ser entendido como o "poder" do sistema ortográfico português de 1945, ao qual o Acordo de 1990 está fortemente vinculado, reforçada esta nossa hipótese pelo fato de que o relator desse texto de 1945, o fílólogo lusitano Prof. Rebelo Gonçalves, no seu excelente "Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa" (Atlântída, Coimbra, 1947, pág. 389), declarou que nos casos em pauta: "o hífen que se segue a esse elemento pode ser repetido, com vista à clareza gráfica, no início por engano, está'.
O Dia (RJ), 5/12/2010