Nesta quarentena que vamos enfrentando, não poderíamos deixar de falar dos companheiros fiéis, os animais de estimação (para os quais vemos difundido o estrangeirismo pets), que têm ajudado tanta gente a seguir firme no isolamento social.
Um dos animais que as pessoas têm mais perto de si e, por isso, observam com mais cuidado é o cão. Entre as qualidades está a obediência. É frase conhecida: o cão é o melhor amigo do homem. Vem daí o atribuir-lhe o dom de trabalhador: trabalha como um cão. O servilismo está patente em expressões do tipo segue-me como um cãozinho; brigo e ele volta como um cachorrinho. Há os que metem medo, daí ouvirmos: chegou com uma cara de cão. Não é à toa que serve eufemisticamente para aludir-se ao diabo: é o Cão.
Ao fato de existir o cão vira-lata, que, sem dono, vagueia pelas ruas sem proteção, associam-se expressões como vida de cão, como um cão (sem dono). Daí também a alusão à magreza: magro que nem um cão. Também ao cão se atribui sua pouca simpatia ao gato: são como cão e gato, bem como sua esperteza e agilidade: é rápido como um cão, qualidade que divide com o gato: com mão de gato.
Nos tempos modernos, o gato é tão próximo das pessoas como o é o cão; todavia, não era assim no passado, pois a antiguidade não conhecia o gato doméstico, mas tão somente o montês, que os latinos chamavam feles/ felis, e que se conservou em denominações eruditas da nomenclatura técnica: felino, por exemplo. Cattus produziu maior ninhada lexical em todas as línguas românicas, quer nessa forma, quer na sua variante gattus.
Entre as qualidades do felino estão a agilidade e esperteza: esgueira-se como um gato, pula que nem um gato. Há também os termos pejorativos gatuno, gatunar e a variante gatunhar, gatunagem. Da facilidade e presteza com que pega as coisas utilizando as unhas surgiu gaturar, variante de gaturrar. O gato também é visto como um belo animal, e isto explica a metáfora do termo aplicado a uma mulher ou homem bonitos: ele é um gato.
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