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A busca da transcendência

 

As palavras são do Papa Bento XVI: "Na educação das novas gerações, a questão da verdade certamente não pode ser evitada: ao contrário, deve ocupar um espaço fundamental." Como responsáveis pela condução do sistema de ensino do Rio de Janeiro, hoje com mais de 1,6 milhão de estudantes, temos procurado levar isso em conta, como pode testemunhar a coordenadora de Educação Religiosa, professora Valéria Gomes. As escolas não podem ser objeto de uma espécie de "negociação da fé", como se isso fosse possível.


 


Cada um tem a sua crença, que deve ser respeitada, no caminho comum da busca da transcendência. A convite, participamos do último Encontro dos Bispos, no Colégio de São Bento, de tantas e tão ricas lembranças, sobretudo as que se referem à figura quase santa de D. Lourenço de Almeida Prado, modelo de educador. Tendo à frente o Cardeal D. Euzébio Scheidt, que começou a vida como professor, pôde-se falar a 14 bispos sobre o estilo adotado na educação fluminense, de profundo respeito aos cânones confessional e plural. Ultrapassamos a fase do ecumenismo - ou da visão puramente antropológica - para a transmissão de valores e a busca da transcendência, como enfatizou o Cardeal do Rio de Janeiro. Foi mostrado, numa hora de debate, o apreço da governadora Rosinha Garotinho pela religião, ao reativar a sua ministração por intermédio de um concurso público de títulos e provas, que disponibilizou mais 420 professores de educação religiosa, seja ela católica, evangélica ou judaica. Oferece-se a cada aluno o que concerne basicamente à sua crença, em geral provinda dos lares a que pertencem os jovens, com a inefável influência exercida pelos pais. Mas há furos, nessa batalha.


 


Veja-se o que ocorreu há pouco com a morte violenta de cinco jovens, num desastre dramático de automóvel, às 5h30 da madrugada, depois de uma noite passada em boate da Lagoa. Depois de 2 km de viagem, o carro bateu no meio-fio, ultrapassou um canteiro e capotou muitas vezes, até se espatifar numa árvore. Algumas das vítimas eram menores. Pergunta-se, sem deixar de lado a solidariedade, os pais sabiam onde estavam os seus filhos? Preocupavam-se com isso? Quatro dos cinco jovens tinham bebido além da conta. dicotomia. D. Filipo Santoro, bispo de Petrópolis, procurou mostrar que a família é essencial na orientação dos filhos. Lembramos do Concílio Ecumênico Vaticano II e da lei brasileira: "A educação deve ser dada no lar e na escola." Quando essa dicotomia se rompe ou não se ativa, perdem todos. Busca-se a formação integral da pessoa humana, para que se reduza drasticamente a violência hoje presente em nossa sociedade.


 


O lema "educar para a humanidade" torna-se mais presente do que nunca, com a valorização do amor, como orienta D. Clemente Isnard, que, mesmo aos 95 anos de idade, não deixa de lado o seu sagrado sacerdócio. Foi um enorme prazer reencontrá-lo no São Bento, único dos bispos com os quais houve o mesmo entendimento, nos idos de 1981, também com a Secretaria de Estado de Educação. Uma conversa proveitosa, para reforçar, no espírito dos professores fluminenses, a transmissão de valores centrados na verdade.


 


 


                                                               Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 20/10/2006