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Ankito na Baixada

 

Insisto num ponto sem qualquer arrependimento: não somos muito chegados a cultuar os mitos nacionais. Se não são totalmente esquecidos, porque aí seria demais, a névoa do tempo se encarrega de torná-los distantes, inclusive para as homenagens devidas. Ocorre isso de modo geral e - fenômeno inquietante - com grande incidência nos tempos modernos.


Da velha geração, que tem pelo menos 50 anos de lucidez, podemos lembrar no cinema um trio que fez muito sucesso. Oscarito, Grande Otelo e Ankito. Este último, perto dos 80 anos, vive placidamente no município de Belford Roxo, onde descansa ao lado da esposa, às voltas com textos, fotos, recortes de jornais, latas de filme dos seus tempos de glória efêmera.


O cinema brasileiro deve muito a Ankito. A cena em que ele dança um tango divertido com a atriz Violeta Ferraz, ele pequenino e ela imensa, é verdadeiramente antológica. Ele cochicha, ao lado da governadora Rosinha Garotinho: "Tudo de improviso. Sem ensaio e sem repetição, como era comum naquela época."


Rever Ankito, pessoalmente e em fitas memoráveis de um humor ingênuo, foi uma das alegrias que tivemos, ao inaugurar a primeira Sala Popular de Cinema, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, de uma série de 11 que estão sendo construídas. Para a apresentação de filmes, preferencialmente nacionais, inclusive aos domingos pela manhã numa região sem maiores atrações, ao preço simbólico de 1 real.


Alguém perguntou se o projeto tinha algum sentido didático-pedagógico, e a resposta quem deu, com propriedade, foi a governadora: "Vamos fazer uma seleção cuidadosa para que assim seja, daí a preferência inicial por filmes brasileiros. É um dos programas mais expressivos do nosso projeto de inclusão cultural, numa região em que milhares de jovens estão em busca de oportunidades para enriquecer os seus conhecimentos. Ali, antes, nunca houve um cinema."


Sem muito esforço, pudemos reconhecer no Rio de Janeiro a inexistência de cinemas em mais da metade dos seus municípios. Hoje, há um interesse crescente pela sétima arte e nem a violência urbana contém o desejo da nossa população, sobretudo a mais jovem, de sair de casa para ver um bom filme. As bilheterias estão aquecidas, sobretudo nos shoppings centers.


O projeto da Secretaria de Estado e Cultura é simples: em parceria com as prefeituras, construir e equipar salas de 100 lugares e manter a vivacidade da programação, inclusive para as escolas públicas, que terão horários próprios. Outro aspecto destacado é o fato de que a projeção cinematográfica não será isolada. Ela será precedida de explicações dos professores sobre o conteúdo da obra e, sempre que possível, debates após a exibição, com a presença de atores ou diretores que participaram do filme.


Vencida a etapa do cinema, dois outros desafios se colocam à fase do governo do Estado: avançar com a apresentação de peças teatrais e valorizar a música popular brasileira, de que fará parte de um festival estudantil. Como se vê, imaginação não falta.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) 19/07/2004

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ), 19/07/2004