Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Alma e corpo do Rio

Alma e corpo do Rio

 

A alma e o corpo do Rio de Janeiro todo inteiro, do Rio de Janeiro indo ao norte até Atafona e Itabapoana, e ao sul até Paraty, e ao oeste até a fronteira com Minas Gerais, é o que aparece no livro-álbum Rio de Janeiro, estado maravilhoso, cuja história é contada através de imagens colhidas pelas fotos de Pércio Campos.


Há uma verdade que pode ser classificada como a verdade da imagem, diferente da verdade da palavra. É a verdade da coisa vista, da coisa reproduzida. Nos tempos anteriores à invenção da fotografia, estava essa verdade nas mãos dos pintores e escultores, que fixaram feições e movimentos, desde a pequena estátua grega de Sócrates, que se acha hoje no Museu Britânico, até os muitos portraits de poetas e pensadores que estão em universidades e centros culturais, e as muitas paisagens seja de um céu tumultuado feito por Van Gogh ou de um sereno e tranqüilo descampado de Constable que surpreendem a natureza num momento de verdade,


A invenção da fotografia veio criar condições de as imagens serem apanhadas como se mostram num determinado instante, dentre de um universo variado em que apareçam gente, bichos, árvores, chaminés, locomotivas, cafezais, marés, lagos, rios, uma velha igreja perdida no presente ou apenas a terra com o céu por cima. Este é o mundo colorido de Pércio Campos. O que ele na realidade faz é escrever, com fotos, um ensaio sociológico sobre uma região cheia de vida. Pode ser, assim, considerado como um ensaísta que, ao invés de palavras, usa a força de seu instrumento, a imagem, para levantar a história do Rio de Janeiro, maravilhosa por natureza e maravilhosa pelo esforço de sua gente.


É o próprio Estado do Rio de Janeiro, e todo ele, que aparece nas fotos de Pércio Campos, que mostram prédios, casarios, igrejas, conventos, praças, palácios, montanhas, árvores de todos os tipos, tamanhos e cores, pontes, móveis, estações de estrada-de-ferro, objetos, pessoas reunidas em festas, bichos vivendo perto de gente, principalmente grupos de pessoas dançando, pulando, rindo, de braços abertos, com roupas coloridas, luminosas, esquisitas, de pano e de lama, com fantasias de Carnaval, e bonecas, flautas e pandeiros, tambores grandes, médios e pequenos, torres, pontes, bandeiras, estádios, os reis do Congo e a Folia da Manjedoura, e praias, praias e mais praias - praias que fazem lembrar a história de pôr-de-sol, ocorrida numa das mais famosas delas, Ipanema, onde um grupo de pessoas, num fim de tarde, se viu diante de um começo de crepúsculo diferente, o sol devia estar batendo em nuvens e morros, mas de modo estranho, as pessoas se levantaram de suas cadeiras, onde cada um tomava sua cerveja, juntaram-se homens, mulheres e crianças e ficaram vendo o pôr-de-sol, que foi demorado, belamente lento - no final todos bateram palmas prolongadas, aplaudiram o pôr-de-sol que parecera esmerar-se em mostrar aspectos novos, diferente dos crepúsculos normais.


Essa história - de o povo do Rio de Janeiro ter aplaudido um pôr-de-sol - apareceria mais tarde em reportagens escritas no exterior e até numa cena de romance brasileiro.


Sobre esse material ergueu Pércio Campos um mundo fotográfico de rara beleza, exibindo, em alguns casos, detalhes de uma realidade que só a imagem pode mostrar. Além do aspecto natural da terra, de sua Floresta Atlântica, de suas pedras abruptas que, na própria cidade do Rio de Janeiro, como nos altos de Teresópolis e como na Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba, pega a câmera de Pércio também a bela visão das maiores plantações de tomate do Brasil em Paty do Alferes ou a Pedra do Cão Sentado de Nova Friburgo. O mais importante, porém, é a Luz (com L maiúsculo mesmo), que cerca toda a paisagem e as gentes e precisa ser bem entendida pelos artistas da fotografia para pegá-la em cheio no momento certo. Aí, o testemunho é do próprio Pércio Campos que, no texto que escreveu para o álbum, afirma: ''Emana do Estado do Rio de Janeiro uma luz que não se consegue medir com fotômetros, suavizar com difusores ou cobrir com filtros. É uma luz volátil e quente que despeja seus raios de vida ao acordar, a cada manhã, o povo fluminense para seu cotidiano invariavelmente intenso e vibrante...''


O livro Rio de Janeiro - Estado Maravilhoso foi apresentado no Centro Cultural do Palácio Guanabara, pela Governadora Rosinha Garotinho, que falou sobre a importância de um documento dessa qualidade, Ter sido feito com base nas imagens de um artista que, para captá-las, percorreu todo o Estado e mostra, em suas fotos, aspectos significativos da cultura fluminense e do povo que representa essa cultura. O prefácio do álbum sobre o Rio de Janeiro é do acadêmico Arnaldo Niskier, Secretário de Estado de Cultura-RJ, que também falou na festa de lançamento, destacando o dinamismo da gestão do Governo fluminense em promover o desenvolvimento de pólos industriais de várias especialidades, o que transformou o Rio de Janeiro no Estado da federação que mais emprega.


Rio de Janeiro, estado maravilhoso é uma edição do Governo do Estado do Rio de Janeiro; reúne centenas de fotos coloridas de Pércio Campos, com texto explicativo do autor deste artigo e tradução para o inglês de Isabel Thomé. O trabalho de impressão, de alta qualidade, foi da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro.


 


Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 25/1/2006