Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Alberto Faria e a gota de mel

Alberto Faria e a gota de mel

 

É do escritor carioca Alberto Faria, que pertenceu à Academia Brasileira de Letras, a famosa “Parábola da gota de mel”, que agora reproduzimos, em sua homenagem:

Era uma vez um homem que fugia perseguido por um rinoceronte furioso; aterrado pelos rugidos do animal, corria com quanta força tinha e caiu em um abismo que se lhe deparou na frente; mas ao cair pode agarrar-se ao ramo de uma árvore que havia aí e ficou empoleirado nela.

Seu coração ia pouco a pouco serenando; ao debruçar-se, porém, sobre o precipício, viu dois ratos, um branco e outro preto, que roíam sem cessar a raiz da árvore e que dentro em breve teriam consumado a tarefa.

Mergulhou o olhar mais profundamente ainda e avistou um dragão que vomitava chamas e que abria fauces formidáveis para tragá-lo.

Passando com angústia olhares em torno de si, viu ainda quatro cabeças de serpentes que saíam de um rochedo, erguendo-se para ele. Mas como levantasse a fronte, eis que uma gota de mel, deixada pelas abelhas em um dos mais altos ramos da árvore, lhe caiu na boca entreaberta.

Não pensando nos perigos circundantes – monstro que o persegue, dragão que o espera, serpentes que o ameaçam, árvore que vai desabar, – O insensato dá-se todo inteiro à doçura desse prazer de um átimo.

Aos 12 anos, Alberto Faria redigiu o jornalzinho O Arauto e, aos 14, fundou, na cidade de São Carlos (SP), A Alvorada. Realizou seus estudos no interior de São Paulo. Em 1889, fixou-se em Campinas (SP), onde exerceu o jornalismo. Fundou o Dia, e escreveu para o Correio de Campinas, tornando-se seu diretor . Em 1897, lançou A Cidade de Campinas . Obteve grande êxito a seção “Ferros velhos”, sob o pseudônimo de Adelino.  Prestou concurso para a cadeira de Literatura, no Ginásio de Campinas, concorrendo com Coelho Neto e Batista Pereira, e logrou o primeiro lugar. Além de professor de literatura e jornalista, destacou-se como crítico e historiador de cunho erudito (scholarship), ao lançar mão dos processos de investigação e análise aplicados à literatura, para a decifração de problemas intrincados de autoria ou datação de obras. Polemista, manteve nos diversos jornais em que colaborou debates e discussões com escritores da época, tratando de temas de alto interesse para a cultura histórico-literária.

Orientou seus estudos para a crítica externa e interna das obras e da história literária. Foi um dos primeiros críticos brasileiros a se preocupar com o estabelecimento dos textos ou da autoria, a descoberta de influências, datas e fontes, e com a análise de formas e temas. Os seus estudos sobre o problema da autoria das Cartas chilenas destacam-se entre os que mais luzes trouxeram à questão.

Faleceu em Paquetá, cidade do Rio de Janeiro, em 8 de setembro de 1925.

O objetivo, ao recordar aspectos da vida desse importante escritor da ABL (ocupante da Cadeira no 18), é ressaltar, na memória fluminense, aqueles que se destacaram e que hoje não podem permanecer no esquecimento, sob pena de se estar cometendo lamentável injustiça.

Tribuna de Petrópolis, 2/2/2011