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Adeus, Antonio Olinto

 

Há cinco meses não dialogava com Antônio Olinto. E sentia muito a sua falta. Depois de um sério acidente cerebral, o escritor mineiro e conceituado crítico literário perdeu a consciência e viveu em estado vegetativo, com a nossa esperança de que voltasse a falar.


Na bela paisagem de Diamantina, antes do café da manhã, recebi o telefonema da minha filha Andréia: “ O nosso Olinto acaba de falecer.” Foi um choque, sofrido nas Alterosas que ele tanto amou e soube valorizar, na sua premiada obra literária.


O meu pensamento se voltou para aquele homem baixo e ágil, que me chamava de “irmão”. Vivemos lado a lado, por 12 anos, na Casa de Machado de Assis e por mais de 10 anos na parceria para a edição do bem sucedido Jornal de Letras, que agora perde a sua segura e inteligente orientação.


Olinto foi um aplicado seminarista, depois professor de latim, exerceu notáveis funções diplomáticas, sobretudo na Inglaterra e na África, mas fez o seu nome, na literatura brasileira, como um rigoroso crítico literário. Até hoje é lembrada a sua “Porta de Livraria” de O Globo publicada durante 25 anos seguidos e responsável pela descoberta de novos talentos.


Sentirei muito a sua ausência, sobretudo por causa dos sábios conselhos, que só pode dar quem chega gloriosamente aos 90 anos. Podia fazer mais? Não há dúvida. Tinha planos como se fosse um jovem. Quis o destino, no entanto, que houvesse agora essa triste interrupção. Sua última ida à ABL, onde era frequentador assíduo, foi para fazer, de pé, o que não é usual, um belo e lúcido discurso sobre prêmios literários. Tinha intensa participação na vida acadêmica e chegou a ser membro da diretoria, que eu presidia. Ajudou muito a ativar o serviço de publicações da Casa.


Lembro um fato que ocorreu um dia depois da sua posse na Academia Brasileira de Letras. Zora Seljan, sua esposa, pediu-me audiência, em casa. Ao recebê-la, levei um susto. Ela só queria fazer um pedido: “Aproveite bem o talento do Olinto. Sei que, com você, ele poderá realizar muitos dos seus melhores projetos.” E assim foi.


Senti o quanto de amor havia na preocupação de Zora com o seu querido Olinto, que a ela dedicou, anos mais tarde, o seu “Ave Zora , Ave Aurora”: “Ave Santa, Ave o que vai além do ser normal/Ave a palavra que a santa diz/Ave Zora na sua fé, no seu avanço/Além do necessário...”


O mineiro de Ubá, que no ano passado homenageou com um belo livro o seu inesquecível conterrâneo Ari Barroso, dirigiu nos últimos seis anos o Departamento de Bibliotecas Municipais do Rio de Janeiro, tendo reformado mais de 20 delas e as transformou em centros de estudo e literatura, destinados a crianças e jovens. Tinha o gosto especial pela educação e pelo enlace cultural Brasil-África, como demonstrou nos seus livros essenciais “A Casa da Água”, editora Bloch, 1969; “O Rei de Keto”, Nórdica, 1980 e “Trono de Vidro”, Nórdica, 1987, os três traduzidos para 19 idiomas, com mais de 30 edições em língua estrangeira e outras tantas em língua portuguesa.


Depois de três anos de intensa vida cultural em Lagos, na Nigéria, apaixonou-se pela história, a música e as artes plásticas do continente africano, do qual trouxe para o Brasil a mais completa coleção de máscaras existentes em nosso território e que esperamos seja preservada pela família.


Ele não poderá assistir ao lançamento do livro “Antônio Olinto, 90 anos de paixão”, escrito pelo seu amigo José Lins de Albuquerque. Mas seguramente em espírito estará ao nosso lado, repetindo no meu ouvido, baixinho, o que costumava dizer sempre: “Não podemos abandonar a luta pela educação.” Esteja certo, querido amigo, que não iremos desonrar a sua memória. Adeus, Antônio Olinto.


Jornal do Commercio (RJ), 18/9/2009