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400 anos de atraso

 

Quem acompanha os trabalhos científicos brasileiros sabe que foi o professor Carlos Chagas quem descobriu o veneno transmitido pela picada do Barbeiro, habitante das casas de taipa. O professor Carlos Chagas estudou o primeiro bicho-barbeiro por ele selecionado e verificou o positivo contágio que pode levar o paciente à morte, se não for tratado a tempo.


Leio, agora, que levou mais de quatrocentos anos a eliminação do Barbeiro como transmissor do Mal de Chagas. Vemos que estamos atrasadíssimos em matéria científica, pois poderiam ter sido evitadas milhares de mortes de rurícolas, os habitantes das zonas rurais do Brasil.


Somente agora se descobre, segundo leio num dos jornais de grande circulação, que os habitantes das casas de taipa da zona rural ainda estão sujeitos a esse contágio, mas podem se salvar com o tratamento imediatamente efetuado pelas indicações deixadas pelo saudoso professor Carlos Chagas.


Antes das universidades dos anos 30 havia a pesquisa isolada, que chegava a um resultado acompanhada do medicamento, e que em seguida era arquivado. Não havia a pesquisa com método universitário, mas sim a pesquisa voluntária. E digo isso aproveitando a ocasião de um surto de contágio do mosquito da dengue, cujo a origem já se conhece e é combatida.


Essa revelação sobre o caso do bicho-barbeiro, e o reboliço que causou nos meios científicos, mostra como os governos da República se mantiveram afastados das pesquisas científicas, enquanto nos EUA, exemplo máximo, eles chegavam nesse século com mais de duzentos prêmios Nobel só no setor científico.


Aos pioneiros, a minha homenagem e a de todos os brasileiros que tiveram alguém salvo pela obstinação do cientista.


Diário do Comércio (SP) 28/5/2007