
Lembrando Elis
[2]“A garotinha do bairro do IAPI, de Porto Alegre, chegou longe. Mais do que isso: transformou seu nome numa fase memorável da música popular brasileira, fase que transformava em canções as expressões mais autênticas de nosso povo”
“A garotinha do bairro do IAPI, de Porto Alegre, chegou longe. Mais do que isso: transformou seu nome numa fase memorável da música popular brasileira, fase que transformava em canções as expressões mais autênticas de nosso povo”
A cada dia acordamos com novidades a respeito dos excessos cometidos em nossas estradas ou caminhos urbanos onde o perigo está presente, sobretudo no comportamento de jovens em geral bêbados ou drogados. Sem contar os pais irresponsáveis que entregam seus carros a menores de idade, sem receio das conseqüências, muitas vezes trágicas.
Ban Ki-moon, diplomata de profissão e antigo ministro das Relações Exteriores e do Comércio da Coréia do Sul, que teve na sua eleição o apoio da China e dos EUA, assumiu neste mês de janeiro o cargo de secretário-geral da ONU. Sucede ao ganense Kofi Annan, que cumpriu dois mandatos e exerceu o cargo de 1997 a 2006. Num cenário internacional de tensões difusas e incertezas crescentes, “o mundo não dá a ninguém inocência nem garantia”, para me valer das palavras de Guimarães Rosa. Daí a pertinência de examinar as funções e o papel que pode exercer o secretário-geral no plano mundial.
Concorrendo com os americanosAo visitar o Japão, para promover O Diário de um Mago, perguntei ao editor Masao Masuda, por que os japoneses conseguiram conquistar mercados que antes eram dominados pelos americanos.
Há quarenta anos Guimarães Rosa nos deixava, menos de uma semana depois de haver tomado posse na Academia Brasileira de Letras. Durante os dois meses anteriores, havíamos estado juntos quase que diariamente, Jorge Amado, Rosa e o autor destas linhas. Éramos componentes da comissão julgadora do Prêmio Nacional Walmap, para romance inédito, o mais importante da época.
Não entendo nada de mulher, claro. Aliás, ninguém entende, nem mesmo Freud, que, num momento de aparente exasperação, perguntou o que as mulheres querem e morreu sem saber. Por sobre isso, mister se faz ressalvar que as considerações abaixo são feitas apenas por um amador, esforçadíssimo mas jamais um craque junto a elas, não contando com a experiência de certos amigos meus (alguns já finados, devem ter morrido disso), muito mais afeitos ao convívio com o afamado Eterno Feminino. Para parco consolo nosso, creio que minha condição é partilhada pela maioria dos cada vez mais perplexos machos da espécie. Somos mais ou menos como torcedores de futebol - temos teorias que julgamos irretorquíveis, mas bem poucos somos bons de bola.
Foi uma bonita posse, em Brasília. Os discursos e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na data solene, revestiram-se da fundamental característica de sinceridade. Inclusive quando falou demoradamente sobre os seus planos de dar ao país uma educação de qualidade. Não temos lembrança de quem tenha prometido tanto, no início de um mandato de quatro anos.
Quando discutíamos com Alfonsín e Sanguinetti, em 1985, o que seria a integração da América Latina, a começar pelo Cone Sul, duas coisas surgiram como excludentes de quaisquer outras: a democracia e o crescimento. Era um tempo em que quase a maioria dos países desta área eram ditaduras. Tínhamos duas pedras grandes em nosso caminho: o Chile de Pinochet e o Paraguai de Stroessner. A cláusula democrática os excluiu, apesar de participarem do nosso espaço econômico e geográfico. A democracia era prioritária. Eu mesmo afirmei nas Nações Unidas que o caminho do desenvolvimento passava pela democracia. "Crescer juntos" foi nosso slogan.
Não há guarda-chuvacontra o poemasubindo de regiões onde tudo é surpresacomo uma flor mesmo num canteiro.
Parece que durou pouco o empenho de Lula em colaborar com os governadores do Sudeste no combate à violência. Citando nominalmente o caso do Rio de Janeiro, ele classificou o banditismo de terrorismo, abrindo uma larga frente de operações do governo federal na ajuda aos governos estaduais que mais sofrem com o crime organizado.
O mundo global sofreu, com o enforcamento de Saddam Hussein, o choque inédito de uma execução ao vivo, acarretando verdadeiras revulsões da consciência do nosso tempo. Vivemos a barbárie do cadafalso, bem como a intolerabilidade de um despotismo, incapaz de se mascarar sob razões de Estado ou da realpolitik de uma soberania, machucada por invasões estrangeiras e golpes e contragolpes de cliques políticas. A condenação internacional contrastou com o espetáculo local de um "dente por dente", pedida por um Estado quase tribal, do talião sem mercê. Não se contiveram os carrascos e a entourage xiita, nesse espetáculo de insultos frente ao condenado, com a corda já no pescoço. Diante da velha guilhotina, o terror sempre respeitou a última palavra do executado, no recado a se transformar num post scriptum de mármore.
No artigo da semana passada falei aqui do Tempo (com maiúscula mesmo) no livro mais recente de romanista Autran Dourado, "O senhor das horas". Hoje estou de novo no Tempo, mas de um poeta, no livro de sonetos de Luiz F. Papi, "Irreparabile Tempus".
Pleno 2007. Lula toma posse. Saddam está morto, Bush vivo, e Bento XVI convida a humanidade a desfrutar da paz.
Deixando o cargo a 1° de janeiro, Kofi Annan recebeu nítido reconhecimento internacional pelo empenho manifestado, nesse decênio, na efetiva construção de uma cultura da paz para o nosso tempo. A última Assembléia Geral já manifestara maciçamente nos seus aplausos o apoio à determinação do Secretário Geral, por um mundo decidido a superar os limites estreitos da soberania nacional. Seu discurso antecedia o de Lula e teve, na seqüência, o do presidente Bush. Compactavam-se, assim, as mensagens contrastantes, entre a busca de um novo Estado de Direito universal e o avanço da hegemonia protagonizada pela potência exclusiva e, sobretudo, pela visão missionária do horizonte político do Salão Oval.
Publicada em 10/01/2007 (atualizada em 11/01/2007)
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