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Segurança nacional e generais apaixonados

 

Não se percebe, ainda, em todo o seu impacto, a renúncia do general Petraeus, como chefe da CIA. O que se manifestou foi a exigência do que devam constituir as Forças Armadas como primeira representação da hegemonia do país, no seu emergente inconsciente coletivo.

O mais venerado dos militares, responsável pelas vitórias no Afeganistão e no Iraque, tem que pagar o preço, senão o exorcismo, do que encarna como ideal de perfeição do homo americanus.

O rito do sacrifício de Petraeus o levou à confissão do adultério, incompatível com o visto, hoje, como acúmen do comportamento nacional, no sacerdócio da segurança. Petraeus admite, sem restrição ou justificativa, o crime de lesa-majestade, e reconhece o "wrong doing" como chefe da CIA.

Exclui-se, de princípio, qualquer tolerância ou desculpa, na antecipação do que, agora, ronda a mesma expectativa, no caso do general Allen, réu dos mesmos e-mails carregados de sexual explicities, com uma beldade de Tampa, na Florida.

Não faltou, na crise, também, o confronto entre as duas agências sumas, da garantia da sobrevivência do país, assegurada pela espionagem máxima em que se extremam a CIA e o FBI. Ou, inclusive, uma frente à outra, na exposição, sem volta, do dossiê Petraeus.

Depara-se, hoje, uma inextrincável fusão entre o público e o privado dos detentores últimos da segurança americana, em contraste, aliás, com o que, no mesmo posto, há meio século, AJlen Dulles, irmão de Foster Dulles, chefiava também a CIA e gabava-se de relações com mais de 100 mulheres.

Tal para não falar do mesmo labéu que atingiria comandantes em chefe do país, como Roosevelt, Kennedy ou Clinton. No seu afastamento, a renúncia sumária de Petraeus terá assentado um novo patamar de desempenho nas áreas da segurança nacional, exigindo os comandantes perfeitos, como reiterou em suas declarações, e, de todo, imunes às leniências que a nação das liberdades permitiria, no seu humanismo democrático. A rigidez das declarações do general mais importante dos Estados Unidos, desde McArthur, é a de quem caiu do novo Olimpo construído neste meio século, e do emergente aristocratismo militar, inquietantemente enraizado no país de lefferson e Lincoln.

Jornal do Commercio (RJ), 30/11/2012