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Quando vai parar a faxina?

 

Quando vai parar a faxina? É a pergunta mais funda em que a consciência política do país se interpela sobre a sucessão de escândalos de corrupção, que vem de par com a consolidação do governo Dilma. Importante, de saída, é o quanto, de parte do Planalto, não existem travas para o pleno exercício da denúncia e da chamada às contas do aparelho público brasileiro. Nem em qualquer momento encontrou guarida a cobertura de primeiros escalões, frente a suspeitas e aos probatórios que prosperaram nos pavimentos ministeriais.

A multiplieidade de figuras de corrupção, uma vez por todas trazidas à opinião pública, vai a uma causa estrutural. O que está em questão é exatamente o avanço da modernidade da prestação pública, diante da antiga política de clientela. Sinal, talvez, mais devastador do subdesenvolvimento é o perdurar do vício colonial do botim, pelo poder, e dos dinheiros públicos, em todo o naipe de delitos; do açanrbarcamento orçamentário à privatização dos serviços. Mas, sobretudo, avultam as comissões, na concessão das obras públicas, em que o gasto na infraestrutura do desenvolvimento e da mudança mantém-se ainda dominado pelo velho clientelismo. Estamos ou não, agora - e é pergunta básica -, diante de uma virada de página, rompendo com a tolerância a esses processos, e a certeza da inviabilidade de suas condenações? E o mais importante, ainda, a assentar a expectativa da mudança, nasceu durante o governo Lula: a ação desimpedida da polícia, na investigação entre os poderes, na proposição dos probatórios contundentes e levando a mais constrangedora defensiva às comissões congressuais para apreciação das evidências do crime e sua esperada punição. E é o que se repete no Legislativo pela procrastinação lamentável desses julgamentos e, sobretudo, a contundente falta de suas chegadas a plenário, para as decisões finais. Só se realça o contraste, nestes meses, com a implacabilidade do Executivo, no basta à corrupção e a vinda à toma de uma responsabilidade do partido na indicação do ministro corrupto.

Dilma manteve, até agora, as rédeas do jogo, conservando as cotas destas legendas na composição ministerial, e transferindo à sua responsabilidade interna o acerto de contas. O quadro dessa escalada não exclui que futuros projetos de lei punam todos os responsáveis na contratação de obras públicas, mergulhadas no facilitário previsível da corrupção, incorporada nos custos empresariais. Há que atentar a todos os beneficiários da prática contumaz, em outra marca do nosso subdesenvolvimento.

É o da zona obscura dos lobbies, e na desenvoltura em que trazem o produto feito aos interessados, nesta feroz competição pelo quinhão dos empreiteiros no orçamento brasileiro. Não há outro campo para que a cidadania acordada mais insista em que a faxina não pode parar.

Jornal do Commercio (RJ), 21/10/2011