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Eleições e fatalidade da palavra

 

O segundo debate da campanha presidencial nos EUA tornou mais nítido ainda o racha entre as duas visões do país que vão ao pleito. No primeiro confronto, Romney já tinha insistido na presença militar internacional do país, e pretende criar brand new o maior aparelho bélico do nosso tempo. E, em apoio à velha globalidade hegemônica, foi a fundo na agressão à China, no empenho de um descrédito, na desconfiança de suas tratativas externas, a começar pela perene manipulação cambial.

Obama reiterou a visão plural da competição e a presença do comércio em todos os fronts, a bem, inclusive, do emprego americano. Mas a questão de fundo voltaria sempre dinâmica: a economia do país, e a superação da queda da sua mão de obra, frente à supercrise mundial, pós 2008. E, em decisão crucial da política tributária, ambos os candidatos acordaram em tentar salvar a classe média e, sobretudo, o pequeno negócio e o miniempreededorismo. E aí se desdobraria um novo conflito, em que Obama vê como impossível a tarefa, sem trazer o Estado à recuperação dos menos favorecidos.

A declaração de Romney foi contundente ao afirmar que o Estado não gera empregos, e o que importa é retornar-se ao espontaneísmo da vida econômica. Obama mostrou que 47% da população americana vivem dessa expectativa, e que seu governo responde ao fulcro, mesmo, da classe média americana. O republicano, por sua vez, foi explícito em transferir do plano federal todo o Obamacare. E, à política assistencial do presidente, Romney contrapôs o exponencial de déficits a que Obama submeteu, neste quadriênio, o orçamento do país. A réplica foi instantânea, evidenciando-se o quanto as novas despesas militares e de segurança absorveriam, maciçamente, as economias sociais, com a eliminação da assistência à velhice, ou aos handicapped do país.

O último confronto passou, por outro lado, da política externa à confiança no commander-in-chief na Casa Branca. À rapidez da tomada de decisões, soma-se o reconhecimento do aparelho defensivo, e Obama soube bem explorar a defasagem do rival no que fosse a modernidade da Marinha, que não se avalia mais pelo número de navios, apoiado na melhor tecnologia contemporânea. Tal como os atuais efetivos militares são considerados mais que adequados, e nenhum setor bélico pediu qualquer aumento orçamentário.

O que reforçou o jogo cerrado a favor de Obama, no segundo debate, foi o claro engano senão a mentira de Romney com relação aos incidentes que levaram à morte do embaixador americano na Líbia, não serem, de logo, entendidos como um claro ato de terrorismo. O presidente declarou-o, sem ressalvas, na Casa Branca, 48 horas depois do atentado. Não temos de maturação democrática, quanto à credibilidade de um discurso, podendo mudar, decisivamente, o próximo rumo do país, e dos caminhos do Ocidente. E, sem dúvida, não há maior  impacto do que seja o erro, por força da palavra, no seio do voto livre de nosso tempo.

Jornal do Commercio (RJ), 26/10/2012