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Depois dos Brics

 

As limitações da última reunião dos Brics não deixam dúvida sobre o esgarce da organização e a perda do que seria o seu momentum para a quebra das globalizações, comandadas pelo Primeiro Mundo. Vem à luz, cada vez mais, o próprio e crescente antagonismo dentro do grupo, se não, já, a competição interna. E, da mesma forma, a leniência com a plataforma básica da pós-modernidade, representada pelo respeito e avanço dos direitos humanos. A Índia continua determinada à mantença dos dalits, ou seja, dos marginalizados, por inteiro, que hoje, respondem a quase um terço de sua população.

Individualmente, vê-se a Rússia, por outro lado, presa aos impasses dos levantes ucranianos, da sumária anexação da Criméia e do intervencionismo constante nos levantes do leste do país limítrofe. Continuam em mero esboço as propostas de cooperação nascidas do recenete encontro do grupo no Brasil, em especial, a criação de banco que possa se contrapor às políticas monetárias do Banco Mundial. Mas é, sobretudo, a nova expansão da China que marca o desbalanço crescente do que fora visto como a possível diferença na hegemonia do capitalismo ocidental. Aliás, tanto cresce o desempenho de Pequim, tanto se esfuma a presença e a cooperação da África do Sul no conjunto. O expansionismo chinês, hoje, se marca pelos seus investimentos maciços em Angola, onde, inclusive, já ocupa posição dominante no seu avanço universitário. Não sem razão, o governo brasileiro na área, inclusive, está convocando os campi brasileiros para assegurar um comportamento compensatório ao país, ao guardar a sua identidade histórica. Mesmo porque não é falando inglês que chegam os chineses a Luanda, mas já, no perfeito comando da língua local.

Tanto ainda demora a concretização do banco dos Brics, tanto se desdobram os fundos de empréstimos de Pequim para cidades, e até se pode falar de uma modelagem do espaço urbano para o nosso século. Ao velho contraponto da urbe e do campo, confrontam-se uma política de comunicação e de técnicas de ensino à distância e a utilização do lazer. Mais ainda, acelera-se a mobilidade cultural, que já assegurou, em 2014, a 300 milhões de chineses, a visita sistemática aos museus do país. E é a manter o que se pensou para os Brics, e superando a ideia do desenvolvimento como ainda o experimentamos, que desponta a alavanca do apelo direto à cultura e ao conhecimento, num verdadeiro curto-circuito na planejada e, talvez, obsoleta melhoria do Terceiro Mundo.

Jornal do Commercio (RJ), 17/07/2015