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Artigos

  • Boca fechada

    Folha de São Paulo, em 10/05/2015

    Por que será que a presidente Dilma Rousseff decidiu não fazer o discurso de sempre no Primeiro de Maio?

    Causou surpresa porque ela, até então, tem se valido de toda e qualquer data e pretexto para falar ao eleitorado. E sempre com aquele discurso nos apresentando um Brasil maravilhoso, de que só ela tem conhecimento.

  • Perda

    Folha de São Paulo, em 03/05/2015

    Na quinta-feira da semana passada, dia 24, perdi um amigo e companheiro na reinvenção da vida: o pintor Antonio Henrique Amaral. Ele nasceu em São Paulo e viveu quase todo o tempo nessa cidade. Andou pelo mundo e morou algum tempo em Nova York, mas foi na capital paulista onde viveu e trabalhou a maior parte da existência.

  • Arte como alquimia

    Folha de São Paulo, em 19/04/2015

    Outro dia, me deparei com uma senhora que veio a meu encontro para dizer-me: "Fiquei muito feliz ao ouvi-lo dizer que a arte transforma o sofrimento em alegria". Falou isso e me abraçou.

  • Papo furado

    Folha de S. Paulo, em 01/02/2015

    Vou dizer aqui uma coisa que você talvez não acredite: nunca pensei em me tornar conhecido, muito menos famoso.

  • Arte sem concessões

    Folha de S. Paulo, em 07/12/2014

    Enquanto o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta uma exposição das obras do escultor Amilcar de Castro (1920-2002), em Porto Alegre, na Fundação Iberê Camargo, e em São Paulo, na Pinacoteca, realizam-se duas mostras comemorativas dos cem anos de nascimento do pintor Iberê Camargo (1914-1994).

  • Nonsense

    Folha de S. Paulo(RJ), em 23/11/2014

    Tenho escrito muito sobre política, aqui, neste meu espaço, quando poderia estar falando de outros assuntos mais agradáveis. Sucede, no entanto, que são tantos os fatos ocorridos ultimamente, envolvendo os interesses dos cidadãos, que me sinto obrigado a comentá-los. Como já se previa, Dilma, depois de reeleita, arcaria com a herança maldita que ela própria criou.

  • Começou a mudar?

    Folha de S. Paulo, em 16/11/2014

    Não posso adivinhar qual será o desfecho desta história que começou com a morte surpreendente de Eduardo Campos, desdobrou-se na ascensão de Marina Silva, depois com o crescimento da candidatura de Aécio Neves e concluiu com a vitória de Dilma Rousseff sobre ele, pela diferença de apenas 3 milhões de votos.

  • Caixinha de surpresas

    Folha de S. Paulo, em 09/11/2014

    Gostaria de deixar claro que, muito embora tenha criticado a atuação de Dilma Rousseff e do PT durante a campanha eleitoral, não torço para que seu governo fracasse, mesmo porque o que está em jogo, neste caso, é o interesse do país e, consequentemente, o interesse de todos nós.

  • Herança maldita

    Folha de S. Paulo, em 02/11/2014

    Como todo mundo previa, qualquer um dos dois candidatos à Presidência da República que ganhasse, ganharia por pequena vantagem. E assim foi: Dilma, 51,6%, Aécio, 48,4%. Noutras palavras, o país dividiu-se ao meio.

  • Maura Lopes Cançado

    Lia pouco, observava muito; sua frase era simples, não erudita, mas de uma precisão cruel Sinceramente, não fiquei surpreendido. Em 2003, quando fazia uma série de palestras na Sorbonne (Nantes, Lyon, Rennes e Paris), um jovem professor pediu-me para falar sobre Maura Lopes Cançado, cujo livro "O Hospício É Deus" estava estudando para uma tese de doutorado na própria Sorbonne. Ele sentia dificuldade em encontrar material crítico e biográfico sobre a autora, sabia vagamente que eu fora seu amigo -estava citado no livro- e guardara uma crônica que eu publicara na Ilustrada há tempos, falando de Maura e um pouco de sua personalidade humana e literária. Passa o tempo e recebo, no último sábado, a visita de uma aluna que a escolheu como tema de sua tese de mestrado na PUC-Rio. Forçando a memória, lembro que, no passado, estudantes de faculdades espalhadas pelo Brasil já me haviam escrito pedindo informações sobre Maura, que também tem outro livro publicado ("O Sofredor do Ver") e uma série de contos no "Suplemento Dominical" do "Jornal do Brasil", no final dos anos 50. É um fato mais ou menos comum em todas as literaturas: escritores de talento, alguns beirando a genialidade, passam desapercebidos por seus contemporâneos e somente aos poucos vão conquistando espaço entre os estudiosos fatigados de analisar as obras já exaustivamente analisadas pela massa crítica que se forma nas academias, nas editoras e na mídia. Temos alguns exemplos entre nós -e o de Maura me parece o mais recente e emblemático. Morreu há pouco, esquecida e conformada, aparentemente curada da loucura que a levou a diversas internações em hospícios e clínicas psiquiátricas. Não mais escrevia, não procurava ninguém e por ninguém era procurada, a não ser por seu filho, Cesarion Praxedes, que morreu dois anos atrás. Naqueles anos, eu também colaborava no "SDJB" e freqüentava o andar ocupado pelo suplemento, cuja fauna está toda citada nos livros de Maura: Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar, Assis Brasil, Mário Faustino, José Guilherme Merquior, Carlos Fernando Fortes Almeida, José Louzeiro, Alaôr Barbosa, Walmir Ayala, Barreto Borges, Oliveira Bastos e outros que agora não lembro. Reynaldo Jardim foi o criador e era o editor do "SDJB", recebeu um conto de Maura e ficou entusiasmado, publicou-o na primeira página, na diagramação competente de Amílcar de Castro. Foi o início de uma série de contos magistrais; falou-se em Katherine Mansfield, em Mary McCarthy e, principalmente, em Clarice Lispector, que parecia a influência mais próxima da desconhecida contista. Estava longe de ser uma imitadora. Seu universo era mais denso e concentrado naquilo que, mais tarde, ficamos sabendo ser a sua loucura. Eu havia estreado na literatura em 1958, e Maura me procurou, dizendo que desejava escrever um romance. Tirei o corpo fora, não se ensina ninguém a escrever um romance, um ensaio, uma poesia. Ajudei-a apenas materialmente, dando-lhe uma máquina de escrever. O resultado foi "O Hospício É Deus". Não se trata de um desabafo. Mas de um mergulho complicado no seu universo interior, quando a matéria da carne se decompõe antes da morte, e sobra apenas a convulsão, "a noite escura da alma" (Maura nunca leu São João da Cruz). Convulsão que ela experimentou fisicamente na série de eletrochoques, nos acessos de cólera contra o mundo e contra a humanidade. Em duas de suas crises mais violentas, matou uma enfermeira e um namorado, cumpriu pena em presídios psiquiátricos, foi libera- da por parecer de médicos que a examinaram e por juízes que absolveram. Era doce quando superava a loucura, amante, querendo aprender tudo para melhor desprezar o mundo e a humanidade. A literatura poderia ser o seu refúgio, se Maura acreditasse nela mesma e na própria literatura. Lia pouco, observava muito; sua frase era simples, não erudita, mas de uma precisão cruel. Não era feia, mas se julgava belíssima. Adolescente em Minas, ganhou um avião de seu pai, pilotava bem, batizou o aparelho com o nome de seu filho, Cesarion. Um acidente cortou a sua carreira -aliás, ela nunca pensou numa carreira, queria apenas ser ela mesma, com as suas manias, o seu sofrimento de ver o mundo e as coisas, a sua loucura, o seu deus.

  • O drama da doença mental

    Ferreira Gullar, de quem sou amigo há muito tempo, é um grande poeta, e um grande ser humano, uma pessoa de vida difícil e sofrida. Perseguido pela ditadura, passou longo tempo no exílio, e, como se isso não bastasse, tem um filho esquizofrênico vivendo num sítio em Pernambuco; um outro filho, igualmente esquizofrênico, morreu de cirrose. Baseado em sua dolorosa experiência, Gullar escreveu em sua coluna da Folha de S. Paulo três artigos protestando contra a falta de vagas hospitalares para doentes mentais. “Ninguém aguenta uma pessoa delirante ou agressiva dentro de casa”, desabafou. A repercussão foi extraordinária, com centenas de leitores manifestando-se, e muitas entrevistas, incluindo matéria de capa na revista Época do último fim de semana. Ferreira Gullar trouxe à tona um problema real, candente e polêmico.