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Os relativos e as preposições (conclusão)

 

Ao lado dos casos de inadequações de estilo lembradas nas duas colunas anteriores, há construções com pronomes e advérbios relativos acompanhados ou não de preposições para atender às normas de construção gramatical estabelecidas no capítulo conhecido dos estudantes pelo nome de regência.

Entre outros fatos de língua, estuda-se nesse capítulo da gramática a necessidade ou não de preceder o complemento regido da competente preposição requerida pelo termo regente. Esta decisão, assentada pela obediência ao uso da norma, seja na modalidade formal, seja na informal (pois a gramática desta segunda modalidade também se rege por normas próprias), exige do falante um conhecimento que se adquire pela observação intuitiva dos falantes que estão à sua volta, ou, segundo o conselho do excelente professor de Língua Portuguesa que foi Silva Ramos: “submetendo-se a um regime diário de leitura escolhida de escritores modernos para se firmarem nos complementos”. Este capítulo de regência, especialmente a escolha da competente preposição a ser empregada é a aquisição mais difícil e derradeira a que chega qualquer falante, quer na língua materna, quer na estrangeira que pretende aprender. E apesar de todo o cuidado nesse aprendizado, o estudante deve estar preparado para enfrentar constantes surpresas.

Comecemos nossa caminhada pelo capítulo especial de regência dizendo que os casos que nela nos interessam de perto são os complementos que devem ser introduzidos por preposição, isto porque há casos em que se dispensam preposições: “Leio o livro” [complemento ‘livro’ sem preposição], e “Gosto do livro” [complemento ‘do livro’ com preposição]. Ocorrerá o mesmo fenômeno se se tratar de pronome ou advérbio relativo, que sempre exercerá uma função sintática, exigindo ou não uma preposição, conforme a natureza complementar do verbo: “Ganhei o livro que leio.” Esta frase resulta da fusão de duas outras independentes: “Ganhei o livro”, “Leio o livro”. Se usarmos o pronome relativo “que” para aludir ao “livro” na fusão de “Ganhei o livro” e “Gosto do livro”, teremos: “Ganhei o livro de que gosto.” O verbo ‘ler’ não seleciona nenhuma preposição ‘de’ para introduzir seu complemento “livro”. Daí se cometerem erros de regência se construirmos frases do tipo “Ganhei o livro de que leio” ou “Ganhei o livro que gosto”, trocando os complementos das regências do verbo “ler” e do verbo “gostar”, já que não usamos “Leio do livro” nem “Gosto o livro”.

Se aplicarmos os mesmos critérios estabelecidos acima, facilmente entenderemos que há erro de regência na frase “Esse é o caminho onde vou para casa”. A frase resulta da fusão de “Esse é o caminho” e “Onde (esse caminho) vou para casa”. Mas quem dirá “Vou para casa esse caminho”? Dirá sim “Vou para casa por esse caminho”, uma vez que a preposição ‘por’ é exigida para introduzir a circunstância de lugar por onde. A frase errada deverá ser substituída por “Esse é o caminho por onde vou para casa” ou “Esse é o caminho pelo qual vou para casa”.

Se tivermos a frase “Apresento-lhe o vizinho que lhe falei”, logo detectaremos o erro no emprego do verbo “falar” destituído da preposição pedida pelo verbo. Quem fala, fala DE alguém. Portanto, o correto será, na norma padrão: “Apresento-lhe o vizinho de quem lhe falei.” Tratando-se de pessoa, usa-se ‘quem’ em lugar de ‘que’.

O Dia (RJ), 26/2/2012