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Novo Acordo Ortográfico e o Volp

 

Leitora assídua desta coluna nos envia algumas indagações sobre o novo Acordo Ortográfico e os registros que dele faz o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) na sua 5ª edição, saída no início de 2009.  
 
Em primeiro lugar, pergunta a razão pela qual se manteve o acento diferencial no infinitivo "pôr" e se extinguiu em "para" (do verbo parar), já que a justificativa teórica seria a mesma Os redatores do texto do Acordo nada nos informam a respeito. Mas acreditamos que vamos encontrar a explicação na tendência que presidira o Acordo de diminuir no máximo a necessidade de acentuar graficamente os vocábulos de nossa língua, com especial atenção para os diferenciais, uma vez que o contexto,com maior ou menor facilidade, estaria apto para solucionar casos de possível ambiguidade.

Já sentimos o prenuncio dessa medida quando, em 1973 no Brasil e em 1975 em Portugal, muitos casos de acentuação gráfica diferencial foram abolidos, para alegria dos usuários. Agora, no grupo dos oxítonos e paroxítonos, os redatores só privilegiaram o infinitivo "pôr" em nome da tradição, e o pretérito "pôde" este porque quase sempre a falta do circunflexo não contaria com a ajuda do contexto. Por exemplo, na frase "Ele pode fazer isso" o verbo tanto admitiria, sem o auxílio de um advérbio de tempo, ser entendido como o presente "pode" quanto o pretérito "pôde" Concordamos com a leitora em que a mesma justíficativa teórica aplicada ao acento gráfico de "pôr" se estenderia ao de "pára" verbo, mas, com isso, os redatores não teriam conseguido fechar a porta ao extensíssimo número de intrusos pretendentes de acentos diferenciais. Dos males, o menor. 

O segundo questionamento da leitora diz respeito à acentuação gráfica de' jiu-jítsu" em que o "i" vem com acento agudo, já que o Acordo nada diz sobre as paroxítonas terminadas em -u, mas sim em -us.Realmente o Acordo não trata disso, porque em português não os temos desde muito finalizados em -u; havia "tribu" que hoje escrevemos com -o, "tribo" Lembramos, inclusive, que há uma recomendação ortográfica do não uso do -u final em palavras de origem latina, razão porque, em vez de "mótu" (por exemplo, na expressão "de moto próprio"), haveremos de usar "moto".

Ocorre que o termo japonês já se incorporou, como empréstimo, ao léxico do português, o que motivou no VOLP e em outros produtos lexicográficos retirá-lo da lista à parte dedicada às palavras estrangeiras. Ora, neste caso, a grafia com acento tônico no "i" da penúltima sílaba se impõe, uma vez que o princípio que regula a acentuação é o da reciprocidade, isto é, se um oxítono não é acentuado por estar em certa condição,o paroxítono na mesma situação o será; assim, se o oxítono terminado em"-o"ou"-os"é acentuado graficamente (avô, cipós), um paroxítono na mesma situação não o será (caso, casos). Partindo deste princípio, se os oxítonos em -u ou -us não levam acento gráfico (angu, nus), os paroxítonos o levarão (jiu-jítsu, vírus). Esta foi a motivação que levou o VOLP a acentuar graficamente o estrangeirismo incorporado ao léxico português, como o fizeram, entre outros, os dicionários Aurélio e Houaiss, O Vocabulário Ortográfico da Porto Editora (Porto, agosto de 2009), sob a orientação científica do Prof Dr. João Malaca Casteleiro, um dos integrantes da Comissão Portuguesa do Acordo, parece ter preferido considerar o nosso vocábulo como estrangeirismo, e, assim, não acentuá-lo graficamente.

Fiel aos quatro princípios metodológicos que presidiram a implantação das Bases do Acordo Ortográfico de 1990 ao rico repertório lexical do VOLP, a Comissão de Lexicologia e Lexicografia da Academia Brasileira de Letras procurou, sem ferir o espírito simplificador do Acordo, estabelecer uma linha de coerência do texto como um todo.

O Dia (RJ), 21/11/2010