Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Jornalismo e ABL

Jornalismo e ABL

 

O foco da Academia Brasileira de Letras em seus 114 anos de existência sempre foi o de preferentemente preservar e valorizar a memória nacional, a língua como instrumento do conhecimento e da convivência, as letras como reveladoras e formadoras da identidade do país, sem deixar de fora nada do que é humano, como a ciência que reside no espírito - a explicar o ob-servado - e a poesia que habita a alma, a senti-la e a compreendê-la.
 
Logo, não poderemos ter uma cultura amnésica e um civismo estaladiço, feito apenas de muito verniz.

A Academia deve inquietar certezas.
 
Atentamos para o dinamismo social, no que ele encerra, na linha inclusive da regeneração, pois nenhuma entidade se legitimará trabalhando no contraciclo. 
 
Em função disto tudo é que vivemos a noite da posse de Merval Pereira, sob o testemunho de tanta gente ilustre. Mestre Eduardo Portella acolheu , em nome da Casa, a Merval Pereira e este disse a que veio. Disse que veio em sucessão de Moacyr Scliar, admirável romancista e confrade impecável.
 
A presença de Merval Pereira enriquece a nominata dos nossos sócios e mantém expressivo o contingente de jornalistas. São tantos que nem me aventuro a citar alguém. 
 
Já se disse que o jornalismo seria uma literatura de pressão. Pressão do tempo, pressão do espaço. É que o homem dá notícias o tempo todo, e a permanência do seu texto vem da qualidade. Espécie de vai e vem, entre certo imediatismo e a busca da posteridade.
 
Antônio Olinto, nosso saudoso confrade, observou que a pressão não esteriliza quem sabe escrever. É o que acontece com Merval Pereira. Ele escreve como um ideal de clareza. Este é o seu comprazimento. Escrever é escutar o mundo.
 
 
O acadêmico Eduardo Portella, repito, falou por todos nós, com o saber e a sabedoria que tanto admiramos. Permiti-me, antes, abraçar presidencialmente o amigo que se empossava.

No gênero, foi o último ato que me coube dirigir daquela Cadeira tão honrosa, mas de tantas provações. Cadeira onde cabem alegrias e dores. 

Aquele ato, saiba Merval Pereira, foi de grande júbilo para todos nós.
 
Passo os olhos pela trajetória rica dos acadêmicos jornalistas e me calo. Antes, louvo em representação de todos a Euclides da Cunha, o repórter maior, e gostaria, se soubesse fazê-lo, de cantar como Maria Gadú.
 
"Todos caminhos trilham pra gente se ver./Todas trilhas caminham pra gente se achar".

Jornal do Commercio (RJ), 27/9/2011