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Hífen com 'sub' e outros casos

 

Um leitor contestou a decisão do Volp, da ABL, de grafar, por exemplo,‘sub-rogar’, contrariando a lição do texto oficial do Acordo de 1990 que, na Base XVI, 1º, a), manda que nos compostos com o prefixo ‘sub-’ se usará o hífen quando o 2º elemento começar por ‘h-‘, exemplificando com 'sub-hepático'. Desta forma, para o nosso leitor, o Volp teria de registrar ‘subrogar’, e não‘sub-rogar’. E alicerçando seu parecer, reforça a tese como exemplo do inglês ‘subrogate’, o espanhol ‘subrogar’, o francês ‘subroger’, o latim ‘subrogare’.

Comecemos pelo argumento do testemunho do não emprego do hífen em outras línguas. A fragilidade da tese se patenteia pelo fato de o inglês grafar ‘subhuman’ e o espanhol ‘subhúmedo’, ambos sem hífen, para comprovar que o emprego deste diacrítico obedece nestes idiomas a regras diferentes das estabelecidas para o português, o que destrói a argumentação comparativista do leitor.
   
Por outro lado, o Volp da ABL não desobedece ao princípio estabelecido pelo Acordo de 1990, porque grafa hifenado não só ‘sub-hepático’, mas também ‘sub-hidroclorato’,‘sub-hirsuto’, ‘sub-horizontal’,‘sub-humano’ (ao lado de‘subumano’), todos que têm o 2ºelemento iniciado por ‘h-’. 
 
Advogando a grafia ‘sub-rogar’ teria o Volp da ABL cometido crime de lesa-pátria e estaria incorrendo numa infringência legal? Parece que não. O que competia seria preencher um possível vazio normativo do texto legal, com a obediência a uma tradição do sistema ortográfico vigente em Portugal e no Brasil, segundo a qual se emprega o hífen nos vocábulos compostos cujo prefixo termina por ‘-b’(ab-, ob-, sob-, sub-) e por ‘-d’(ad-) e seu segundo elemento começa por ‘r-’, que não se liga foneticamente aos‘-b’e ‘-d’ anteriores:‘ad-rogar’, ‘ad-renal’,‘ob-rogar’, ‘sob-roda’, ‘sob-rosado’,‘sub-região’, ‘ad-referendo’.   

Esta foi sempre a tradição gráfica dos dicionários e vocabulários portugueses e brasileiros, e é esta a tradição que se encontra nos vocabulários ortográficos elaborados em Portugal e no Brasil que se declaram em obediência ao Acordo de 1990. Se a regra tivesse mudado e agora só se passaria a separar por hífen o prefixo ‘sub’ quando o 2º elemento do composto se iniciasse por ‘h-’, contrariando a centenária prática apontada aqui, não seria de se esperar que o texto do novo Acordo assinalasse aos usuários a alteração da norma? Essa advertência não se lê no texto, porque nunca existiu na intenção dos legisladores, salvo na interpretação errada de alguns críticos. 

Outro leitor, tendo lido no Volp o verbete ‘bom-dia s.m.’, nos pergunta se a saudação matinal ‘Bom dia!’ terá também de ser grafada com hífen. A resposta é não, porque a lição estampada no verbete do Volp se aplica, como bem aí se declara, ao substantivo composto ‘bom-dia (p.ex.: Deu um bom-dia animado), que é o nome da saudação a alguém até a primeirametade do dia, representada por uma frase nominal, e não por um substantivo composto. Machado de Assis, durante muitos anos, assinou uma coluna de diário carioca intitulada ‘Bons dias!’, usando a frase nominal como saudação matinal dirigida a seus leitores; e Álvaro Moreyra usava dos substantivos compostos, todos hifenados, na seguinte passagem: “Dá bom-dia, dá boa-tarde e boa-noite”, substantivos que funcionam como complemento direto do verbo ‘dar’.    

 O Dia (RJ), 21/8/2011