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Emprego especial da preposição 'A'

 

Uma leitora  nos pergunta sobre empregos especiais da preposição 'a' junto a complemento de verbos que normalmente dispensam a preposição. Por que ela aparece em construções com os verbos transitivos diretos *louvar' 'adorar'e 'buscar'.
 
O complemento desses verbos pode ser substituído pelo pronome objetivo direto o/a: louvo o trabalho/ louvo-o. Em alguns casos, o objeto direto está representado por pessoa  ou ser personalizado e, assim, o paciente da ação pode ser, em outro contexto, seu agente. Por exemplo: O leão (agente) fere o caçador (paciente)/ O caçador fere o leão. Para indicar com mais relevo o paciente, pode-se precedê-lo da preposição *a': O leão feriu ao caçador. A preposição se impõe, para desfazer ambigüidade, quando o objeto direto vem, na ordem inversa da frase, antes do sujeito: Ao caçador feriu o leão. Note-se que, se se quiser enfatizar o objeto direto por
meio do pleonasmo, usaremos o pronome objetivo direto o/a: Ao caçador feriu-o o leão; À caçadora feriu-a o leão.
 
O que no português é um emprego facultativo, no espanhol, é uma prática obrigatória. Nesse idioma só se pode dizer Amo a mis padres', enquanto no português se pode optar entre Amo meus pais' e Amo a meus pais'. Um competente filólogo alemão, que estudou o emprego do objeto direto preposicionado nestes casos no português, mostrou que a maior freqüência da preposição ocorre no século 17, talvez porque nesse período foi mais próxima a união de nosso idioma ao espanhol.
 
Outro emprego da preposição com vista a evitar ambigüidade junto ao objeto direto ocorre nos casos de comparação do tipo de: *Eu o tenho como a um pai' que pode ser interpretado diferentemente se se diz: *Eu o tenho como um pai'. Qualquer falante nativo do português reconhece a dupla possibilidade de entender a frase sem a preposição 'a', ambigüidade que se desfaz com a presença dela.
 
Por falar em emprego de pronomes pessoais, ainda suscita dúvida em alguns leitores o uso de 'eu' e de 'mim' com o verbo no infinitivo. Por exemplo: 'Isso é para eu fazer' ou 'Isso é para mim fazer'? Usa-se 'eu' se tal pronome é o sujeito do verbo no infinitivo: 'Isso é para eu fazer, então eu faço'. Usa-se 'mim' se não vem em seguida infinitivo: 'Isso é para mim'. Veja-se a diferença nas frases: 'Esse livro veio para mim/ Esse livro
veio para eu ler; O recado é para mim/O recado é para eu anotar'.
 
Resumo: se depois do pronome não vem o verbo no infinitivo, usa-se 'mim'. Por exemplo: 'Olhou para mim'. Se vier verbo no infinitivo depois do pronome, usa-se 'eu': 'Olhou para eu olhar'.

O Dia (RJ), 26/12/2010