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Diário de bordo

 

26.11.01 - GUADALAJARA. Novamente aqui, após um ano e uma viagem complicada em vários sentidos. Era para ter vindo na sexta-feira, com o Eduardo Portella e o Elmer Barbosa, mas não deu, tinha muitos compromissos no Rio e estava pregado. Deixei um trecho de "A Tarde de sua Ausência" para a "Ilustrada", de sexta-feira, mas, pensando melhor, pedirei à Flavinha para não mandar.

No domingo, cedinho no Galeão, primeira classe da Varig até Cidade do México com escala em Cancún, onde tivemos de saltar e fazer a alfândega. Muita confusão no aeroporto, corredores imensos e mal sinalizados, junto com Waly Salomão, Renato Janine Ribeiro e mais dois colegas de Feira do Livro, ficamos perdidos, andando de um lado para o outro, sem saber onde apanhar as malas. Depois o check-in na Mexicana, com o avião barbaramente atrasado.

Chegamos à meia-noite em Guadalajara, uma secretária nos esperava e me trouxe para o hotel Fiesta Americana, onde estive no ano passado. Cinco estrelas, esquisitão, mas confortável.

Meia hora depois, entrei na CBN, conversei com Heródoto e Xexéo sobre o clone humano que uma universidade americana está fazendo. Assunto besta e meu comentário mais besta ainda.

27.11.01 - Estive ontem na feira, a mesma do ano passado, muito bem montada, mas bastante desorganizada. Encontrei parte da turma, Ziraldo, Sarney, Antônio Torres, Nélida, Portella, Silviano, Ana Maria Machado, Rocco, Pascoal Sotto, fui apresentado ao diretor da Santillana, Juan Cruz, que parece interessado em me lançar no catálogo dela.

Tivemos um coquetel num bar e vim almoçar no hotel. Dormi um pouco e voltei à feira, onde assisti à palestra do Portella e da Beatriz Resende, com poucas pessoas, quase todas do Brasil.

No mesmo horário, em outro auditório, Sarney encheu a sala com o lançamento de "Saraminda". Veio com um grupo folclórico do Maranhão, clima de festa.

Voltei para o hotel a fim de dormir cedo, esquecido de um compromisso com o Pascoal e o Juan Cruz.

Felizmente deu tempo de corrigir o esquecimento, fomos jantar numa casa especializada em destilaria, mesa enorme, mais de 20 pessoas, comi mal, pedi um bife, mas não esperei por ele, saí com Nélida e Ana Maria Machado, que me deixaram no hotel.

Fui submetido a uma sabatina. O projeto da Santillana pode colar, o problema é ter de fazer um romance inédito para ela, no próximo ano.

Saí com o Antônio Torres e o Moacyr Scliar para uma entrevista no Canal 22, da TV de Guadalajara, havia uma intérprete simultânea. Dei o meu recado, apesar da dificuldade do idioma.

29.11.01 - Tive outra participação, falei em português, recusando-me a falar em portunhol, que foi o idioma oficialmente adotado por todos nós, uns mais, outros menos íntimos na língua local. Saímos depois para jantar na Estancia Gaucha. Ontem foi um dia sacal, almocei sozinho no hotel, a moça da lavanderia quis me pagar a camisa que ela rasgara, pedi para esquecer.

Fui à feira no final da tarde, dei entrevista a um jornalista de "El País". Assisti ao debate sobre literatura infantil, Ziraldo deu um show.

30.11.01 - Último dia em Guadalajara. Passei a manhã no centro histórico, visitei a catedral, parruda, complicada, impressionante, mas sem charme. Jantar na Estancia Gaucha, com Ana Maria Machado, Elisabeth Serra, Ziraldo, Daniel Piza e Pascoal. O pianista da casa tocou músicas brasileiras em nossa homenagem e, no final, eu fui para o piano e também toquei, para espanto do Ziraldo, que me fotografou diversas vezes.

Fiz o programa da CBN sobre a morte de George Harrison, meu beatle preferido, "My Sweet Lord" é um dos meus clássicos. A turma do áudio botou a música no ar.

Fiquei sabendo que o "El País" deu a entrevista que fiz anteontem e o título da matéria era: "O Brasil é um país medíocre". Nem lembro mais o que disse.

Foi um repórter da CBN que veio ao telefone me informar sobre a matéria que foi transcrita em alguns jornais do Rio e São Paulo. Acredito que deva receber muita porrada por causa dela. Fora do contexto, realmente, ela merece porrada. Vamos ver no que vai dar.

Folha de S. Paulo, 24/8/12