Fui visitar uma sobrinha, enferma há vários dias, e a seu convite almocei com ela. A ida ao Morumbi, onde ela reside, foi normal, embora fosse intenso o fluxo de veículos subindo e descendo pelas avenidas principais. Mas, ao sair de sua residência, às duas da tarde, tive mais uma vez a visão do que é a Era do Automóvel.
Para se fazer uma idéia do que foi a volta, demorei uma hora e meia de seu apartamento até a minha casa, onde parei por não poder chegar a tempo ao escritório, onde havia marcado um encontro, que adiei pela impossibilidade de chegar.
Quando Juscelino Kubitschek criou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística não podia imaginar que a sua decisão criaria problemas insolúveis para as grandes cidades. O resultado da política sobre o automóvel, que era inevitável, é que somos hoje inteiramente dependentes dos veículos automotores, que crescem em ritmo verdadeiramente alucinante.
Se, por exemplo, melhorar a renda das classes populares e inferiores, milhões de novos compradores engrossarão o mercado secundário e mesmo o primário, milhões de automobilistas profissionais e amadores. São previsíveis os engarrafamentos de centenas de quilômetros, prejuízos difíceis de serem calculados na marcha lenta, nos estacionamentos, nos acidentes inevitáveis, num trânsito caótico como é o nosso e irreparável, segundo todas as previsões dos técnicos mais autorizados.
Essa é a Era do Automóvel. Está difícil marcar encontro com hora certa devido a tantos congestionamentos. O automóvel se tornou soberano, podemos dizer; é um objeto de trabalho que não podemos prescindir, sobretudo por ser deficiente o serviço de ônibus no transporte urbano.
O automóvel é o atual soberano, do qual somos súditos.
Diário do Comércio (São Paulo) 21/12/2005
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