Já lembrei, há tempos, o velhinho do Iseb, instituto criado pelo pessoal da esquerda, destinado a combater a Escola Superior de Guerra, que tramava o golpe de 1964, dirigido por Castello Branco e que resultou na deposição de João Goulart e nos 21 anos de ditadura militar. O velhinho ia a todas as reuniões onde os problemas da época (Vietnã, Cuba, reforma agrária, remessa de lucros etc.) eram resolvidos.
Veio gente até de fora, como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Régis Debray e teóricos do mesmo calibre que traziam soluções para impedir que o imperialismo norte-americano tornasse o Brasil uma colônia de Wall Street. Os argumentos eram sérios e levados a sério. Uma noite, da numerosa plateia levantou-se um velhinho e, de dedo no ar, dirigindo-se especialmente para Sartre e Roland Corbisier, declarou com autoridade: "Tá tudo muito confuso, temo que não dê certo".
Soube-se depois que o velhinho morava em Niterói e comparecia e participava de todas as reuniões mas não tomava parte nos debates. Certa noite, depois que os palestrantes resolveram todos os problemas da época, espantou os principais líderes da esquerda internacional.
Suspeito que esse velhinho já tenha morrido, se vivo fosse, certamente diria o mesmo quanto à situação nacional, centrada, sobretudo, na corrupção desvairada e na confusão reinante no Executivo, Legislativo e Judiciário, correndo por fora, com grande estardalhaço, a Polícia Federal e o distante e calorento subúrbio de Bangu.
Na realidade ninguém mais sabe quem governa o país. Além do presidente da República, líderes partidários e candidatos ao poder todos os dias e noites fazem análises e apresentam soluções que salvem o Brasil da malária, da dengue, da falência dos Estados e da situação calamitosa dos presídios nacionais.
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[1] https://academia.org.br/academicos/carlos-heitor-cony