Embora não tenha compromisso com a ciência e a história, o Gênesis, primeiro livro da Bíblia aceita por várias religiões, é o relato literário mais articulado da criação do mundo, acima e afora das teses acadêmicas. Atribui a Deus, que pairava sobre as águas, a criação de tudo, do céu, da terra, dos mares, dos pássaros, dos peixes. E à medida que criava alguma coisa, o próprio Deus verificava se era bom.
Entretanto, quando criou o homem à sua imagem e semelhança, se esqueceu de fazer o mesmo e nem se importou se a nova criatura era boa. O único reparo que fez foi desastroso: "Não convém que o homem seja só". E, antecipando-se à era dos transplantes, tirou uma costela do homem e com ela fez a mulher.
Pronto. Estava feita a pior emenda do soneto. Bem verdade que pouco depois mandou o dilúvio, porque descobrira que homens e mulheres faziam o que não devia –segundo alguns exegetas. Ou comeram os frutos da Árvore do Bem e do Mal, segundo outros entendidos. Fica explicada a existência de dona Dilma, de Eduardo Cunha, de Lula e daquele cidadão que todas as manhãs passa pela minha rua, acordando a gente com o seu grito: "Olha a pamonha!"
Eu faria um mundo pior, embora eliminando o vendedor de pamonha. Não conseguiria pairar sobre as águas, morreria afogado. Mas faço justiça a Deus, só criou um mandamento, proibindo comer da Árvore do Bem e do Mal. Posteriormente Moisés deixou dez mandamentos e o Concílio de Trento (em 1545) proibiu 272 coisas.
Por sua vez, o síndico do meu prédio, aqui na Lagoa, proibiu-me de estacionar o carro fora da vaga a mim destinada pelo regulamento aprovado pelos demais condôminos. Estou também proibido de trazer marafonas para dormir comigo. E ouvir em volume alto, depois das 22h, "O Príncipe Igor", de Borodine.
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