Uma leitora assídua dos nossos dicionários, ouvindo a expressão "azul-barateia" , queria determinar que matiz de azul traduziria esse termo "barateia" , mas ficou surpreendida com a ausência do termo em nossos dicionários, ainda os mais ricos.
Aliás, a presença e o registro de nomes de cores em nossa língua é capítulo interessante para estudo, porque poucos são os termos nacionais de nomes de cores, pobreza que já reflete a que conhecia o próprio latim. A dificuldade surge porque são muitas as cores e poucos os nomes para designá-las. O leitor interessado no assunto da origem e denominação dos nomes de cor pode começar por ler o proveitoso artigo escrito pelo Prof. Said Ali na "Revista de Cultura" do Padre Tomás Fontes, em 1944, mas antes aparecido em 1931, na "Revista de Philologia e História", editada pelo Padre Augusto Magne, agora recolhido em "Investigações Filológicas", Editora Nova Fronteira (Lucerna 3ª ed.).
Para solução do problema, tivemos de pesquisar junto a oficiais da Aeronáutica - pois só aí é empregado o composto -qual o matiz da combinação'azul-barateia' e, se possível, qual a origem de tão estranho nome. Cabe inicialmente dizer que não foi fácil encontrar oficial da Força Aérea Brasileira que nos pudesse oferecer alguma explicação sobre o que seria o termo, embora alguns logo adiantassem que 'azul-barateia' é a nossa conhecida cor 'azul-marinho'.
Um oficial aviador formado em Letras adiantou-nos que 'azul-barateia', segundo ousam sugerir alguns colegas de farda,teria surgido para não "estigmatizar" (a expressão é deles) com o termo 'marinho', em 'azul-marinho', pois que a expressão mais sugeriria a Força Naval para o azul da farda usada pela Força Aérea Brasileira.
Se a explicação parece sair de etimólogo ingênuo, impressionista e pouco afeito ao rigor da ciência, ela parece encontrar respaldo, por exemplo, na Portaria Nº750/GC6, de 15 de agosto de 2003, do Comando da Aeronáutica, publicado no DOU 18/8/2003(nº 158,Seção 1, página 18),que modifica o Regulamento de Uniformes para os Militares da Aeronáutica (RUMAER). Pela Portaria, o termo 'azul-barateia', utilizado para caracterizar a cor da farda da Força Aérea, deve ser substituído por 'azul-aeronáutica'. Acreditamos que a substituição possa vir a produzir os efeitos esperados, apesar do termo proposto - aeronáutica - pertencer a outra esfera semântica do universo das cores, diferente do'marinho' de 'azul-marinho', que alude à cor do mar.
Pelo menos até agora não foi possível descobrir a origem do termo 'barateia'. Deve ter chegado à língua portuguesa pelo inglês ou pelo francês. O excelente dicionário etimológico inglês de Oxford, no primeiro volume do Suplemento, registra o ano de 1812 como testemunho mais antigo, e aí se declara incerta a sua origem. Já o Longman, 5ª edição de 1988, diz que se trata de nome de marca, sem entrar em maiores considerações. A verdade é que, entronizado o termo 'barateia', ele entra em outros empregos, tanto como coloração secundária (como 'azul-barateia'), ou como marca (como cinta Barathea, crayon barathea), conforme se registra na mídia eletrônica.
O Dia (RJ), 27/3/2011
Links
[1] https://academia.org.br/academicos/evanildo-bechara