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Artigos

  • Corpo do Futuro

    O Globo, em 05/04/2017

    Volto a folhear a Constituição de 88 e me deparo com um sentimento de saudade e furor. Primeiro, pelo que fomos, quando a utopia era o centro da agenda e não cedera lugar à platitude da gestão e da governança, idolatradas pela antipolítica. A busca da modernidade tardia passava pelo fim da desigualdade, através de um conjunto definido de políticas sociais que ainda brilham na Constituição e nas leis complementares. 

  • Machado em Portugal

    Comunità Italiana, em 16/03/2017

    Não são poucos os méritos do livro Machado de Assis e a mundana comédia: cinco peças teatrais. Não me refiro apenas ao recorte definido das cinco peças, mas à qualidade intelectual de dois raros leitores, Carlos Pereyro e Alva Teixeiro, feridos ambos pela palavra, autênticos lettraferits, e sem previsão de alta, graças a Deus! 

  • O Grande Incêndio

    O Globo, em 01/02/2017

    Assistimos no começo do ano a um verdadeiro filme de terror nos presídios do Brasil setentrional. Vinte e cinco anos após o massacre do Carandiru, festejamos as bodas de sangue entre nossa desídia e o sistema prisional. 

  • A Fonte do Amado

    Comunità Italiana, em 23/01/2017

    A cada livro do teólogo e escritor Faustino Teixeira adquirimos novas potências ecumênicas e toda uma saudável inquietação em torno das núpcias com o Amado. Como quem restaura as pontas de uma prisca e de uma tarda theologia ou, em outras palavras, a tradição e as malhas do percurso místico, de saltos e abismos, conjugados no plural, quando diminui a tensão dos fios, nas demandas que se alternam entre o mapa e o relevo, o sistema e a aventura. Porque cada biografia mística é matéria intransferível e ao mesmo tempo fonte de partilha, porque o bem, como diziam os antigos, é sempre difusivo.

  • O crânio de Helena

    O Globo, em 04/01/2017

    O ano mais longo de nossa história arrasta-se teimoso por 2017 adentro. Como o pesadelo que nos precipita num beco sem saída. E, no entanto, seguimos despertos, num misto de esperança e desencanto, a enfrentar a lide serpentária dos Três Poderes, com sua parcela de Napoleões de fachada na restauração do país, de que saímos todos com decrescente espessura moral.

  • Um Mozart Afônico

    Comunità Italiana , em 14/12/2016

    Lembro-me do susto e da alegria, da viva emoção na primeira leitura de Poema sujo, adolescente ainda, quando a descoberta do mundo, dentro e fora dos livros, era uma demanda feroz, uma correnteza impiedosa e selvagem. Lembro-me do céu azul, naquela tarde de sábado. Lembro da livraria, em Niterói, da segunda estante do lado esquerdo. E o coração, que batia forte, e do mesmo lado, não me deixava fechar o livro, que continua, desde a década de setenta, vertiginosamente aberto. 

  • De que lado estamos?

    O Globo, em 07/12/2016

    Acoletiva do dia 27 de novembro dos presidentes do Executivo, Câmara e Senado deixou muito claro, com as votações imediatas no Legislativo, quanto cada titular subestima a opinião pública. A coletiva só não foi de todo insossa porque o senhor Temer perdeu-se ao tentar negar procedimentos muito graves, com velhos chavões.

  • Coronel sem Lobisomem

    O Globo, em 02/11/2016

    Com a morte de José Cândido de Carvalho em 1989, a promessa do romance Rei Baltazar parecia de todo perdida para seus leitores. Cheguei a ouvir de José Cândido alguns detalhes rarefeitos, na casa de nosso amigo Alberto Torres, na praia de Icaraí. Anunciada muitas vezes na imprensa, aludida em conversas, para cair quase no esquecimento desses últimos anos, quem poderia imaginar, passadas três décadas, que o manuscrito existia, e bastante avançado? 

  • Uma Alma

    Comunità Italiana, em 24/10/2016

    Sempre me bati contra o ódio na política e o nefasto exercício da calúnia. Tampouco defendi a defenestração da presidência da República, quando não houvesse comprovadamente crime de responsabilidade.  

  • Utopia concreta

    O Globo, em 05/10/2016

    Há um quantum de utopia que se perdeu momentaneamente num tempo órfão de altitudes, com as entranhas expostas e atacadas por aves de rapina. Há algo de podre no reino da Dinamarca. 
     

  • Meu Amigo Pitanguy

    Comunità Italiana, em 19/09/2016

    Das trilhas abertas pelo doutor Ivo Pitanguy, avulta não somente a criação de um conjunto de técnicas inovadoras, mas o próprio conceito da cirurgia plástica, onde ética e estética caminham lado a lado, sob o fundo antropológico de uma relativa métrica da beleza. Pitanguy visitou igualmente a filosofia antiga, o capítulo metafísico de pulchro, nos elementos constitutivos do belo, como a integridade, a proporção e a claridade. Partiu daqui para desmontar a trama das formas a priori, inclinado à defesa da razão subjetiva, a estética do corpo singular e não a de um feixe de abstração, assumido como têssera platônica.

  • O Que Não Somos

    O Globo, em 07/09/2016

    Caminho entre as ruínas de uma cena política devastada. E indago aos deuses tutelares do Brasil se dissipamos por completo a herança da Nova República, ou se ainda resta o mais precioso fundamento: de que a democracia é irmã gêmea da justiça social, renovada e corrigida pelo voto popular.

  • Homenagem a Sábato Magaldi

    Revista Comunità Italiana, em 15/08/2016

    Leitor radical da moderna dramaturgia brasileira, Sábato Magaldi tomou distância da condição vitriólica de Iago, que se autodefine como um crítico, nem mais nem menos: I am nothing, if not critical. Porque Sábato era dotado ao mesmo tempo de rara sensibilidade artística e larga erudição no domínio das teorias e das técnicas teatrais, pensadas, contudo, sem apriorismos, desde uma precisa realidade cênica.

  • Adeus a um Democrata

    O Globo, em 03/08/2016

    Um aplauso efusivo e demorado selou a cerimônia de adeus a Evaristo de Moraes Filho no São João Batista. Gesto de catarse e homenagem a um dos últimos varões da República. Aquele aplauso traduziu um sinal de comunhão, síntese de contrários, com pessoas tão diversas que acorreram para homenageá-lo, pois a presença de Evaristo era um centro que congregava a muitos. Um ecumenismo inverso à cultura da intolerância, armada na trincheira do irracionalismo que hoje divide a nação.