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Artigos

  • A escritora acolhedora

    Painel de quase meio século da produção cultural maranhense, em seus diferentes matizes, Sal e Sol, desde logo, se inscreve como obra de referência para a compreensão de um rico universo de valores que viceja para além do pólo formado pelas metrópoles hegemônicas do país.

  • Tarefas do presidente

    Hércules desincumbiu-se de 12 tarefas. Na presidência da ABL, Marcos Vilaça cumpriu, possivelmente, mais de 1200... Com o precioso auxílio dos outros membros da Diretoria, e o apoio dos demais acadêmicos, Vilaça foi o ,maestro que soube reger com perfeição tanto a música de câmara das sessões internas da Casa, às quintas, quanto os acordes sinfônicos e ininterruptos de eventos que atraíram milhares de pessoas à Academia, através de simpósios, seminários, ciclos de palestras, concertos, exposições, noites de autógrafos, saraus e montagens teatrais.

  • João Cabral e a arte da dedicatória

    Mais do que simples protocolos de cordialidade, as dedicatórias de livros podem revelar relações de poder ou ainda desferir dardos acolchoados sob a aparente maciez de um "abraço amigo". Cumpre, desde logo, distinguir as dedicatórias tipográficas — que, de algum modo, intentam tornar pública uma relação particular, eternizando-a na página impressa — das dedicatórias manuscritas, direcionadas, a princípio, ao âmbito privado, mas que muitas vezes o extrapolam, exibidas em bibliotecas públicas ou nas prateleiras dos sebos. João Cabral de Melo Neto era considerado parcimonioso (para dizer pouco) em suas manifestações sobre a literatura brasileira. Ao contrário dos entusiásticos elogios a autores de língua inglesa e espanhola, o que se constata é o caráter minguado da parte que nos cabe nesse latifúndio das letras preferenciais do afeto cabralino.

  • Chaplin e outros ensaios

    Quando se deseja uma leitura agradável, é sempre bom acompanhar o que escreve o ensaísta Carlos Heitor Cony, uma espécie de mago das letras, pois faz sucesso nos mais diversificados gêneros.  Para os apressados, bastaria acompanhar as suas crônicas na Folha de São Paulo, onde há muitos anos tem uma posição cativa.  Crítico irreverente, por vezes usa de um lirismo muito próprio, ao descrever por  exemplo  as belezas da  Lagoa Rodrigo de Freitas, bairro onde tem residência fixa.  Em segundo lugar, a Itália e seus mistérios, como as deliciosas histórias de Positano, cidade de que é frequentador assíduo.                                 Pois Cony não liga muito para a idade e continua a brindar o seu público com livros de primeiríssima qualidade.  É o que acaba de acontecer com o seu “Chaplin e outros ensaios”, da editora Topbooks.  Fez um traçado mais que perfeito do genial cineasta, desvendando intenções que passariam despercebidas aos menos atentos.  Com uma notável acuidade interpretativa, como assinala o acadêmico Antonio Carlos Secchin, Cony não se acanha de ficar à contracorrente do pensamento majoritário, ou seja, é um declarado cultor da independência.  Como Carlitos, entende que a estrada humana comporta muito pó, e quase nenhuma esperança.                                Em mais de 150 páginas do livro, mostra que Carlitos é a nossa luta.  Descobre, no exame  acurado da sua biografia, que Chaplin era meio-judeu, pois sua mãe Hannah provinha da coletividade israelita da Irlanda.  Aqui se estabelece uma discordância, pois filho de mãe judia é judeu ( e não meio).  Carlitos não é  comunista, mas um ser humano dotado de uma feroz individualidade.  Ao fazer “O grande ditador”, deixou clara a sua repulsa ao crescimento do nazismo.  Lutou com as armas de que dispunha.  Na hora da adversidade, sentiu-se judeu.                                 Para Carlitos, a recompensa se traduz sempre no pão e no amor.  Depois de brilhar em quase uma centena de filmes mudos, Chaplin saiu-se com esse pensamento: “O cinema é uma arte pictórica.  O som aniquila a grande beleza do silêncio.”  Era uma forte justificativa, mas que não perdurou.  Ele chegou a sonorizar alguns filmes, como “Tempos modernos” e “Luzes da cidade”, dois dos seus mais emocionantes clássicos, sempre deixando o vagabundo a um passo do ridículo e do sublime (como a sua paixão pela vendedora de flores que era cega).  Fez da mímica uma arte incomparável.                                  No citado livro de Cony, há outros ensaios também destacados.  Abordou o romance carioca, para se referir a Machado de Assis, Manuel Antonio de Almeida e Lima Barreto, nos quais se exprime a essência dos nascidos no Rio.  É claro que o maior destaque é para Machado, com o seu estilo em que não aparecem paisagens, cores, árvores ou mesmo o sol.  Ele compôs o mosaico do seu tempo, valorizando aspectos da psicologia dos seus personagens.  E assim se tornou também genial.                                   Pedindo “luz, mais luz”, Cony citou Goethe, como poderia ter falado no matemático escandinavo Abel, que morreu aos 26 anos de idade com o mesmo desejo.  Focalizou Guimarães Rosa (com o amor impossível por Diadorim), Teilhard de  Chardin, Victor Hugo, Mark Twain, Suetônio, Gorki... para  terminar em Nero, que morreu aos 31 anos de idade, depois de ser imperador de Roma por 14 anos.  A razão dessas escolhas é um segredo  muito bem guardado por Carlos Heitor Cony.