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Se lhe der na telha

 

Desta vez não se trata apenas de uma decisão polêmica e provocativa como têm sido quase todas as de Donald Trump. A de agora, reconhecendo Jerusalém como a capital de Israel, desafiando importantes aliados internacionais, inclusive o Papa Francisco, contém um potencial explosivo capaz de inflamar o Oriente Médio e de, como disse o líder do Hamas, abrir as “portas do inferno”, ao destruir o sonho dos “dois estados” (os protestos violentos já começaram). Quais foram os motivos que o levaram a abrir mão do papel dos EUA na mediação do conflito entre israelenses e palestinos, pondo fim às negociações de paz? São questões que os analistas estão procurando entender.

Segundo J.J. Goldberg, editor da “Forward”, revista voltada para o público judeu, Trump foi movido por pressão da direita evangélica republicana, que é hoje uma sólida base de apoio ao partido. Com ele concorda Kenneth Wald, professor de Ciência Política da Universidade da Flórida. Eles acham que a influência dos evangélicos foi mais determinante do que a dos judeus, que seriam em menor número e não teriam uma boa interlocução com Trump.

Além disso, apenas os judeus ortodoxos estariam interessados na opção adotada por Trump. Os mais ao centro e à esquerda prefeririam uma solução negociada. “A decisão não tem a ver com a comunidade judaica, que é majoritariamente liberal”, afirma Goldberg. “Os evangélicos estão em êxtase”, noticiou a rede de Radiodifusão Cristã. Já Michael Barnett, professor de Assuntos Internacionais da Universidade George Washington, acha difícil encontrar uma explicação razoável. Para ele, Trump “faz o que lhe dá na cabeça” — ou na telha. “A sua política é dirigida por impulso”.

A hipótese do impulso ou, digamos, do surto, remete ao que aconteceu na campanha eleitoral, quando um estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, fez o perfil dos candidatos para estabelecer seus “traços psicopáticos”, os quais, no caso de Trump, foram comparados aos de Adolf Hitler e de Idi Amin Dada, ex-ditador de Uganda. O responsável pelo estudo, o professor Kevin Dutton, psicólogo especialista em análises comportamentais, acabou amenizando um pouco seu diagnóstico, admitindo que a psicopatia tem “um lado bom” e que nem todos seriam apenas perversos e narcisistas. “Nem todo psicopata é criminoso. Nem todos são malucos ou maus”, ele procura tranquilizar.

Mesmo assim, fiquei tão preocupado que, em pesadelo, um deles tinha acesso ao botão para explodir o mundo — se lhe desse na telha.

O Globo, 09/12/2017