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O começo da reação

 

Há muito tempo um fim de semana não oferecia ao carioca uma leitura tão animadora quanto a de domingo passado. Refiro-me ao caderno especial do GLOBO sobre o seminário “Reage, Rio”. Foram 42 páginas de artigos, entrevistas e reportagens debatendo e explicando as nossas dificuldades atuais em várias áreas vulneráveis.

Não é a primeira vez que o Rio se debruça sobre si mesmo. Já fizera isso durante a onda de violência de 1993 e 1995, por exemplo. A diferença é que agora se trata não apenas da maior crise de sua história, mas de uma conjugação de várias delas ao mesmo tempo: econômica, de segurança, política, ambiental, ética, de perda de autoestima, de falta de lideranças.

Por isso, a conclusão dos debatedores — uma dezena de representantes da sociedade civil e do poder público — é que a solução não pode ser isolada, mas resultado de ações planejadas e interligadas, envolvendo o setor público, o privado e todos nós, ou seja, a sociedade. Não dá mais para repassar culpas, tirar o corpo fora e terceirizar responsabilidades. Como se diz hoje, a hashtag é #somos todos responsáveis.

A grande novidade do “Reage, Rio” 2017 talvez tenha sido despertar a consciência de que é preciso mais do que reclamar, protestar contra a violência e chorar as vítimas. Uma das mais lúcidas e corajosas entrevistas foi a do coronel Ubiratan Ângelo, coordenador de segurança humana do Viva Rio, que conclamou: “Basta de somente ir à rua pedir paz. Vamos fazer paz com propostas concretas que as autoridades possam desenvolver”.

E foi isso o que o seminário fez ao lançar o documento “50 propostas para mudar o Rio”, com sugestões concretas para áreas críticas como economia, mobilidade urbana, políticas públicas, turismo e ética. Entre as variadas contribuições, há a do ministro da Justiça, Torquato Jardim, do presidente do Metrô, Guilherme Ramalho, do deputado Miro Teixeira e do ex-deputado Fernando Gabeira.

Uma equipe de repórteres do GLOBO e do “Extra” analisou as propostas e indicou o que é preciso ser feito para que elas saiam do papel, ou seja, como se dará a execução das medidas. E mais: eles vão acompanhar o andamento de cada ideia, cobrando publicamente as providências. Não é ainda, evidentemente, a solução do problema, mas também não é apenas um diagnóstico, já é parte do tratamento, o começo.

Diante dessa pavorosa ameaça de apocalipse, com o destino da humanidade nas mãos de dois insanos, o ditador Kim Jong-un e o truculento Donald Trump, é bom lembrar a previsão do gênio Albert Einstein: “Não sei como será a terceira guerra mundial, mas sei como será a quarta — com paus e pedras”.

O Globo, 06/09/2017