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O alçapão da estabilidade política

 

No quadro da nossa perspectiva política, deparamos ineditamente, de parte do governo, o estrito assento sobre a defesa de uma estabilidade absolutamente não programática. Mal despontam rumos, a não ser o de decidir inercialmente em favor de menos governo. Tal implica a drástica redução de secretarias de Estado, bem como o congelamento das apropriações orçamentárias. Excetuaram-se, a duras penas, os gastos com saúde, educação e segurança, a reclamar as condições mínimas de um bem-estar coletivo e independentemente de toda ambição por uma política de desenvolvimento. 

Por força, mantém-se mudo o governo sobre qualquer recontingenciamento fiscal suposto para essas prioridades elementares.

Esse consenso sobre a inércia do Estado vem de par com o desencanto político, expresso no vácuo eleitoral registrado nas últimas eleições municipais e a suscitar um empoderamento evangélico. A sua mobilização aparta-se, por inteiro, do quefazer nas prefeituras, na reiteração de imperativos religiosos, tais como a condenação do aborto ou da homossexualidade. 

No delineio, agora, do que fazer no Rio de Janeiro, observa-se uma apropriação sôfrega de sugestões, fora de todo calendário de suas vigências ou do perfilamento por qualquer ideologia.

Diante desse quadro entre o desencanto e a fadiga eleitoral, como se comportará a cidadania e o gatilho da "toma de consciência"? Por certo, não se buscarão mobilizações partidárias, a exigir ampla reformulação legal, ao escape das dimensões quase familiares ou clânicas da atual multidão de minipartidos. 

Já emerge essa irrupção do dissenso pelas bases, no atual e inédito movimento de ocupação das nossas escolas públicas pelo alunado. Vamos, a seguir, à volta às praças, no despertar das cidadanias, com as guerras de trincheiras para a inviabilização tópica, mas determinada, do nosso aparelho de governo?

Diário da Manhã (GO), 15/11/2016