Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Ivo Pitanguy

Ivo Pitanguy

 

Ivo Pitanguy era reconhecido no mundo como um dos maiores cirurgiões plásticos - todos sabem. Também na generosidade, pois a muitos anonimamente ajudou. Preparou na sua especialidade, gerações de discípulos. 

Foi nosso confrade na Casa de Machado, eleito era 1990. Votei nele, a pedido de uma pessoa muito próxima ao coração, Rachel de Queiroz. Seu último ato, um dia antes da morte, na Olimpíada, de cadeira de rodas, apareceu diante da televisão. Foi a despedida. 

Conheci sua privilegiada inteligência e erudição num encontro, em Brasília, quando houve aniversário da Academia Brasileira de Letras, com recepção na casa do acadêmico Marcos Vilaça, com presença do então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Impressionou-me sua visão abrangente da arte contemporânea . 

Um dia o achei no aeroporto Santos Dumont e foi como sempre fraterno. Havia composto um poema na ocasião; mostrei-lhe: sua reação foi de alegria. Solicitou que lhe enviasse o que fiz. Porque a poesia o encantava, a beleza o encantava, o mistério da magia. 

Era no escondido, um poeta no seu ofício de trabalhar e mudar a imagem humana. Com o poder imaginatório do escultor. E a exata perícia no bisturi. Talvez nas mulheres, o que observou Jorge Luiz Borges, atrás do rosto de Beatriz, aquela sonhada por Dante no "Paraíso". E é o paraíso o fascínio de toda criação, o inefável de um instante, que pode ser eterno. 

E a vida de Ivo Pintanguy foi plena desses instantes, plena de amor à natureza, com sua ilha de árvores, animais, águas, peixes. Ou retorno à floresta da origem, ou a floresta, onde se esconde, sem idade, a infância. 

Nós, acadêmicos, uma noite, fomos todos convidados para a sua mansão num morro do Rio, perto de favelas. Sua sala bela e vasta, tinha quadros preciosos, com originais de Miró, Picasso, Klee. 

Jantamos juntos naquela noite em sapiente mesa. E sua infatigável hospitalidade. Nos perguntávamos quanto de perigo podia correr, ali, naquele lugar. Mas o povo o amava, possuía orgulho dele. Como nós, todos que com ele convivemos. 

Genial, Pitanguy tinha, como o Próspero, de Shakespeare, de "A Tempestade", "o espírito livre". 

A Tribuna (ES), 28/08/2016