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Haddad e Ciro se distanciam

 

Com o crescimento da candidatura de Fernando Haddad do PT, e a manutenção de Ciro Gomes nos mesmos patamares, parece ter encurtado o campo para os demais candidatos que disputam o segundo turno. O candidato do PSDB Geraldo Alckmin mais uma vez ficou parado, não dando ânimo a quem ainda aguarda uma tendência de alta. Marina Silva confirmou a queda registrada em outras pesquisas, e, segundo o Datafolha, está com a metade das intenções de votos com que começou a campanha eleitoral.

A persistir essa situação, é previsível que a base ampla de apoio do tucano, e a de Marina se dispersarão em busca de porto mais seguro, a maioria dos eleitores indo para Bolsonaro, que continua crescendo, consolidando sua posição no segundo turno. Mas certamente Ciro ganhará com votos úteis de tucanos de esquerda ou que não querem ver o PT de volta, e de eleitores de esquerda de Marina.  

Caso Alckmin cresça nas próximas pesquisas, aí será a vez de Bolsonaro desinflar, tornando mais parelha a disputa das duas vagas no segundo turno. Mas para crescer, Alckmin precisa que eleitores de Álvaro Dias, Amoedo e Meirelles decidam fazer voto útil. Os três somam 9 pontos “roubados” do PSDB, além dos eleitores tradicionais do PSDB no sul e no centro-oeste, principalmente ligados ao agronegócio, que migraram para Bolsonaro. Porque nenhum dos três parece disposto a renunciar para ajudar o PSDB.

Em busca do voto útil, tanto Ciro quanto Alckmin transferiram para o candidato petista Haddad a carga de suas baterias. Se esse resultado persistir, o voto útil dos eleitores moderados pode ir para Ciro, que se apresenta como um candidato mais amplo que o petista, e mais competitivo. Alckmin, por sua vez, passou a criticar com mais firmeza Marina, colocando-a no campo da esquerda, dentro do que chamou de “vários tons de vermelho”.

Na eleição de 2014, o candidato tucano Aécio Neves avançou sobre o eleitorado de Marina defendendo a tese de que não era possível a esquerda disputar sozinha o segundo turno. Alckmin visa o mesmo objetivo, mas desta vez fica difícil apelar para o antipetismo quando Bolsonaro roubou-lhe essa bandeira e já está praticamente garantido no segundo turno.

É previsível, a continuar este quadro, que o candidato do PSDB vá perdendo apoios pelo meio do caminho dentro do centrão, partidos que teriam mais afinidades com Bolsonaro. Mas Ciro Gomes, que chegou a negociar com o centrão, pode voltar a ser a alternativa desse grupo ao petismo.

Ciro costuma dizer que Bolsonaro é “um cabra marcado para perder” no segundo turno, utilizando-se de um filme chamado “Cabra marcado para morrer”, um documentário de Eduardo Coutinho. Mas as pesquisas não mostram isso. O candidato do PSL perde sem margem de dúvidas para Ciro Gomes, mas já está empatado tecnicamente com os demais candidatos.

Para quem perdia de todo mundo no começo da campanha, é um grande avanço já ser competitivo contra a maioria de seus adversários. O líder trabalhista Leonel Brizola morreu certo de que houve um complô contra ele, em 1989, para colocar Lula no segundo turno, que seria um adversário mais fácil de ser batido por Collor. Bolsonaro, que lidera a pesquisa eleitoral desde sempre quando Lula não aparece, está se tornando competitivo no segundo turno, e mais uma vez um pedetista considera-se a melhor opção para vencer a direita. 

Ciro se apresenta como aquele que pode garantir a derrota da extrema direita no segundo turno. Alckmin diz que o melhor adversário para o PT seria Bolsonaro, mas as pesquisas mostram que Haddad tem mais dificuldades do que outros para enfrentar no momento o líder das pesquisas.

O apoio de Lula, se é certamente um ativo eleitoral decisivo, também explicita a polarização do país, com 32% de eleitores afirmando que votariam “com certeza” no candidato de Lula, e 49% que não votariam de jeito nenhum. Mas há 16% que “levariam em conta” a recomendação de Lula, e os petistas os consideram já eleitores certos.

O empate técnico da disputa do segundo turno continua, mas com dois grupos já se distinguindo um do outro. Ciro e Haddad estão no limite do empate técnico com Geraldo Alckmin (PSDB), que oscilou de 10% para 9%. No mesmo patamar do tucano está Marina Silva (Rede), que caiu 11% para 8%.

Mas é preciso muito malabarismo estatístico para não enxergar que Alckmin e Marina estão estagnados, quando não caindo, enquanto Ciro e Haddad estão em ascensão, principalmente o petista.

O Globo, 15/09/2018